Sob o título Em construção. A chegada da IA à educação na América Latina, o evento, patrocinado pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI) e ProFuturo – o programa de inovação no ensino com tecnologia da Fundación Telefónica e da Fundación «la Caixa» –, reuniu especialistas renomados, autoridades educacionais e agentes de transformação que debateram e projetaram o impacto da Inteligência Artificial (IA) nos sistemas educacionais da região.
A cerimônia de abertura foi conduzida por Mariano Jabonero, secretário-geral da OEI, e Juan Ramón Fuertes, presidente da Fundación ProFuturo. Mariano Jabonero ressaltou que a inteligência artificial está gradualmente sendo incorporada no campo educacional, gerando debates e reflexões, como toda grande transformação digital. Ele enfatizou que «é fundamental contribuir para a formulação de políticas públicas que garantam uma educação mais justa e de qualidade para todos».
Já Juan Ramón Fuertes destacou que o programa de inovação no ensino ProFuturo avalia seu impacto com base em evidências, o que assegura umaeducação mais eficaz e de alta qualidade. Essa avaliação rigorosa tem sido fundamental para aprimorar, expandir e transformar realidades, garantindo aprendizagens significativas, especialmente em contextos vulneráveis. «O que realmente nos define é a nossa forma de trabalhar: somos um laboratório. Medimos, aprendemos, ajustamos e implementamos os aprendizados». O presidente do ProFuturo continuou afirmando que “acreditamos firmemente que o desenvolvimento profissional dos docentes é a chave para uma verdadeira transformação educacional, sustentável e profunda”, acrescentando que «seguimos caminhando juntos em direção a uma educação mais justa, inovadora e humana».
O evento teve um marco importante com a apresentação do relatório Em construção. A chegada da IA à educação na América Latina, um estudo pioneiro elaborado pela OEI e ProFuturo. O estudo apresentou uma análise detalhada das iniciativas mais inovadoras que, como sementes do futuro, estão ganhando espaço nos ambientes educacionais da América Latina. Apresentado pelo acadêmico Axel Rivas, professor da Universidade de San Andrés, o relatório destacou as grandes oportunidades que a IA oferece à educação, particularmente em contextos vulneráveis. Ao mesmo tempo, apontou os riscos de uma implementação sem planejamento adequado e os desafios de garantir que a tecnologia seja inclusiva, equitativa e acessível.
A pesquisa revela que a implementação da IA na educação latino-americana ainda está em fase inicial. O relatório aponta que, embora a IA apresente um grande potencial para personalizar a aprendizagem e reduzir as desigualdades educacionais, a região ainda enfrenta desafios estruturais significativos, como a desigualdade digital e a carência de competências docentes. Além disso, os riscos de desumanização, invasão de privacidade e o agravamento das desigualdades existentes não podem ser ignorados, sendo considerados como os maiores desafios que a região enfrenta.
Por outro lado, a IA oferece oportunidades de transformação, como a digitalização de conteúdos, a otimização do planejamento pedagógico e o atendimento de necessidades especiais. Contudo, essa implementação exige uma abordagem crítica e consciente. O relatório conclui que é urgente formar uma cidadania digital crítica e promover a colaboração entre os setores público e privado, a fim de integrar a IA de forma ética nos sistemas educacionais. Somente assim a tecnologia poderá se tornar uma ferramenta de equidade, em vez de exclusão.
A mesa de diálogo final contou com a participação de Mirna Parra, gerente de operações do CEIBAL; Carlos Magro, presidente da Asociación Educación Abierta; Martín Olmos, executivo da Direção de Transformação Digital da CAF; e Ana Valero, diretora de Políticas Públicas da Telefónica Hispanoamérica. A moderação ficou a cargo de Joaquín Rodríguez, professor de pesquisa no Instituto para o Futuro da Educação na Europa do TEC de Monterrey. Os participantes compartilharam experiências, boas práticas e traçaram um mapa de oportunidades, riscos e desafios da IA na educação latino-americana, destacando recomendações para construir um futuro educacional mais sólido e humanista.
Em resumo, o encontro deixou claro que a transformação digital na educação na América Latina enfrenta três desafios principais: a falta de habilidades digitais básicas, que limita o uso efetivo da conectividade, mesmo em regiões com acesso; a necessidade de um planejamento estratégico e pedagógico que oriente a integração de tecnologias como a IA, evitando improvisações que possam aprofundar as desigualdades; e a urgência de marcos normativos e modelos de governança que garantam o uso ético, inclusivo e voltado à equidade da tecnologia.
Adicionalmente, a pesquisa revela uma grande falta de conectividade: 28% da população vive em áreas com cobertura de internet móvel, mas não tem acesso devido a barreiras econômicas, falta de dispositivos adequados ou falta de conhecimento sobre os benefícios da conectividade. Para superar esses desafios, é essencial uma coordenação regional, cooperação entre diferentes setores e uma visão pedagógica que coloque a aprendizagem no centro do processo. Esse encontro, promovido pela colaboração entre a OEI e o ProFuturo, se apresenta como um marco fundamental para repensar o papel da tecnologia na educação e imaginar, com uma visão crítica e inclusiva, um futuro em que a Inteligência Artificial se torne uma aliada da inovação, inclusão e desenvolvimento humano na América Latina.