Defendendo o uso da tecnologia digitais nas salas de aula

A tecnologia reconfigurou a forma como ensinamos e aprendemos. Esta é uma realidade à qual não podemos virar as costas. Os mal chamados "nativos digitais" precisam de ferramentas para aprender a navegar em uma sociedade cada vez mais tecnológica e digitalizada. Neste artigo, Laura Cuesta Cano, autora de publicações como Crescer com telas e Conectados: um contrato familiar para o bom uso do celular, defende o uso equilibrado das tecnologias digitais nas salas de aula.

Defendendo o uso da tecnologia digitais nas salas de aula

Nos últimos anos, tive a oportunidade de trabalhar intensamente na interseção entre tecnologia, educação e bem-estar digital. Meu trabalho como professora de Cibercomunicação e Novos Meios na Universidade Camilo José Cela de Madri, assim como minhas experiências em projetos de formação para famílias e professores, permitiram-me observar de perto o impacto da digitalização na vida das novas gerações. Por isso, hoje mais do que nunca, acredito que a digitalização não é uma opção, mas uma realidade inevitável que está transformando nossas vidas. Claro, essa transformação traz consigo tanto oportunidades inigualáveis quanto desafios que devemos enfrentar com responsabilidade.

É precisamente no âmbito educacional que essa realidade assume maior relevância. A tecnologia penetrou em todos os aspectos de nossas vidas, e a sala de aula não é uma exceção. As plataformas digitais, os dispositivos móveis e as ferramentas de aprendizado online reconfiguraram a maneira como ensinamos e aprendemos. Mas como podemos aproveitar essas tecnologias sem cair no uso excessivo ou inadequado? Como garantimos que crianças e adolescentes desenvolvam uma relação saudável e crítica com os dispositivos digitais? Neste artigo, veremos como a digitalização está mudando a educação e como podemos educar as novas gerações para navegar nesse ambiente de forma segura e responsável.

Uma mudança inevitável

Tecnología y educación

O mundo atual está profundamente influenciado pela tecnologia, e essa mudança se torna especialmente evidente na educação. Desde as salas de aula até os lares, a digitalização transformou a forma como os jovens aprendem e acessam a informação. Os dispositivos móveis, os aplicativos educacionais e as plataformas de aprendizado online abriram novas oportunidades para que os estudantes acessem o conhecimento de maneira mais flexível e personalizada. Em minha experiência como professora e formadora, observei como a tecnologia permitiu que as crianças aprendessem no seu próprio ritmo, explorassem novos temas e utilizassem recursos que antes estavam fora de seu alcance.

Paradoxalmente, esse avanço contrasta com o pouco interesse que os estudantes demonstram pelas carreiras relacionadas à tecnologia, as chamadas disciplinas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Embora a tecnologia esteja destinada a ser uma das principais forças impulsionadoras do futuro do trabalho, apenas uma pequena porcentagem dos estudantes opta por essas disciplinas. Este é um problema que afeta não apenas as oportunidades individuais dos estudantes, mas também o desenvolvimento econômico e tecnológico de nossas sociedades.

A resposta da educação a esse desafio não pode ser rejeitar ou fechar-se ao uso da tecnologia nas salas de aula, mas sim promover sua utilização juntamente com o desenvolvimento de habilidades tecnológicas críticas. Precisamos educar as novas gerações para que não sejam apenas consumidores de tecnologia, mas também criadores, inovadores e líderes no campo digital.

O pior é que essa falsa sensação de competência levou alguns pais e educadores a relaxarem a supervisão sobre o uso que as crianças fazem das telas.

Desmontando o mito dos “nativos digitais”

Um dos conceitos mais populares na discussão sobre a relação entre os jovens e a tecnologia é o dos “nativos digitais”. Este termo, cunhado por Marc Prensky em 2001, tem sido utilizado para descrever as gerações que cresceram rodeadas por dispositivos eletrônicos e conectadas ao ambiente digital desde o nascimento. Segundo essa visão, as crianças e adolescentes de hoje teriam uma vantagem natural no uso da tecnologia em comparação com as gerações anteriores.

No entanto, esse conceito é enganoso e prejudicial, pois, embora seja verdade que os jovens de hoje estejam muito mais familiarizados com a tecnologia do que as gerações anteriores, isso não significa que sejam especialistas em seu uso. Na verdade, a maioria das crianças e adolescentes carece das habilidades necessárias para utilizar a tecnologia de maneira crítica e responsável.

O pior é que essa falsa sensação de competência levou alguns pais e educadores a relaxarem a supervisão sobre o uso que as crianças fazem das telas. No entanto, o fato de que os jovens se sintam confortáveis utilizando dispositivos digitais não significa que compreendam os riscos envolvidos ou que saibam como proteger sua privacidade ou gerenciar adequadamente o tempo que passam conectados.

A tecnologia na educação: oportunidades e riscos

É inegável que a tecnologia trouxe uma grande quantidade de oportunidades para a educação. Um dos maiores avanços foi a possibilidade de personalizar o aprendizado. Através de plataformas educacionais e ferramentas digitais, os estudantes podem aprender no seu próprio ritmo, acessar materiais adaptados às suas necessidades e explorar temas que lhes interessam de forma mais profunda.

Durante a pandemia de COVID-19, quando as escolas de todo o mundo precisaram fechar suas portas físicas, a tecnologia permitiu que o aprendizado continuasse a distância. Foi um claro lembrete da importância da digitalização na educação e de como ela pode garantir a continuidade educacional em tempos de crise. Sem acesso às ferramentas digitais, milhões de estudantes teriam ficado para trás, e muitos teriam perdido meses, se não anos, de progresso acadêmico.

Além disso, a tecnologia democratizou o acesso à informação. Hoje em dia, qualquer estudante com conexão à internet pode acessar bibliotecas digitais, cursos online e recursos educacionais de todo o mundo. As fronteiras físicas deixaram de ser um impedimento para o aprendizado, e isso abriu oportunidades inestimáveis para os jovens, especialmente em comunidades que antes estavam excluídas desses recursos.

A tecnologia também fomentou a colaboração e a criatividade. Aplicativos como Google Classroom ou Microsoft Teams permitem que os estudantes trabalhem juntos em projetos, compartilhem ideias e resolvam problemas de maneira colaborativa, mesmo quando estão em locais diferentes. Por outro lado, ferramentas como impressoras 3D, programação e robótica permitiram que os estudantes criassem seus próprios projetos e desenvolvessem habilidades que antes eram impensáveis em uma sala de aula tradicional.

Também é verdade que a tecnologia não está isenta de riscos. Um dos principais problemas é o uso excessivo de dispositivos digitais, especialmente entre crianças e adolescentes. Estudos têm mostrado que o tempo excessivo em frente às telas pode ter efeitos negativos na saúde física e mental dos jovens, como problemas de sono, ansiedade, depressão e falta de concentração.

O uso descontrolado das redes sociais e dos videogames também tem sido motivo de preocupação. As plataformas digitais foram projetadas para serem viciantes, a fim de manter os usuários conectados pelo maior tempo possível. Esse fenômeno é especialmente problemático entre os adolescentes, que muitas vezes passam horas conectados a seus dispositivos, o que pode ter consequências negativas para o seu bem-estar emocional.

Outro risco importante é a exposição a conteúdos inadequados. Crianças e adolescentes podem se deparar com informações falsas, violentas ou sexualmente explícitas enquanto navegam na internet ou usam redes sociais. Além disso, a falta de educação em cibersegurança e privacidade pode colocar em risco suas informações pessoais e torná-los vulneráveis ao ciberbullying ou ao grooming.

Por isso, nosso maior desafio como sociedade é ensinar adolescentes e jovens a usar a tecnologia de maneira responsável e consciente. Precisamos fornecer as ferramentas necessárias para que eles saibam como gerenciar seu tempo em frente às telas, proteger sua privacidade e navegar pelo ambiente digital com senso crítico.

A alfabetização digital: uma prioridade educacional

Para preparar as futuras gerações para o mundo digital, é fundamental que incluamos a alfabetização digital como uma prioridade educacional. Isso não significa apenas ensinar os estudantes a utilizar as ferramentas tecnológicas, mas também ajudá-los a desenvolver habilidades críticas que lhes permitam compreender e avaliar o conteúdo digital de maneira adequada.

Rumo a uma sociedade digital responsável

Estamos em um ponto de inflexão na história da educação e da tecnologia. A digitalização trouxe uma infinidade de oportunidades, mas também nos confronta com desafios importantes. Não podemos nos dar ao luxo de rejeitar a tecnologia ou voltar atrás e excluir os processos para métodos analógicos. Em vez disso, devemos abraçar o potencial da tecnologia, mas fazê-lo de forma crítica, responsável e consciente.

Como educadores, pais e sociedade, temos a obrigação de preparar os jovens para o mundo digital. Isso implica ensiná-los a utilizar a tecnologia de maneira responsável, proteger sua privacidade, desenvolver um senso crítico em relação à informação que consomem e equilibrar o tempo que passam conectados.

Se conseguirmos educar as futuras gerações para o uso seguro e equilibrado da tecnologia, estaremos construindo uma sociedade mais preparada para enfrentar os desafios do futuro, uma sociedade digital onde todos, independentemente de seu contexto, possam ter acesso às oportunidades que a tecnologia oferece.

 

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