Crianças Refugiadas: O Que Estamos Fazendo pela sua Educação?

Segundo dados da UNICEF, o número de crianças deslocadas e refugiadas ultrapassa os 50 milhões. Dessas, quase 15 milhões estão em idade escolar e, de acordo com a ACNUR, metade delas, ou seja, mais de sete milhões, não recebe educação. O que estamos fazendo para resolver essa situação? Vamos explorar isso neste artigo.

Crianças Refugiadas: O Que Estamos Fazendo pela sua Educação?

Foto: ACNUR/Shaina Bashir.

Você sabia que uma pessoa refugiada passa em média 17 anos em campos de acolhimento? Isso significa que muitas crianças passam a maior parte da infância e adolescência nesses ambientes. Esses campos são onde elas vão crescer e, como tal, têm uma influência decisiva em sua educação.

A educação é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento das crianças refugiadas. Não é apenas o recurso mais valioso que elas podem ter para o futuro, mas também um caminho para construir sociedades melhores. Um relatório da UNESCO afirma que cerca de 170 milhões de pessoas no mundo poderiam sair da pobreza se as crianças dos países empobrecidos saíssem da escola com habilidades básicas de leitura e escrita, ou seja, tendo completado os primeiros níveis do ensino primário.

No entanto, de acordo com a UNICEF, o número de crianças deslocadas e refugiadas ultrapassa os 50 milhões. Dessas, quase 15 milhões estão em idade escolar e, segundo a ACNUR, metade delas, ou seja, mais de sete milhões, não recebe educação. A Save the Children também nos conta que uma em cada cinco crianças em todo o mundo (aproximadamente 420 milhões) vive em zonas de guerra.

Frequentar a escola permite que as crianças deslocadas experimentem a infância e se adaptem melhor à nova realidade.

Educação Salva Vidas

Quando as crianças não vão à escola, estão mais expostas a abusos, exploração e recrutamento por grupos armados. Além disso, em meio a um conflito, a educação se torna a prioridade para as crianças que, quando perguntadas sobre o que mais precisam, respondem que querem continuar sua educação.

Em seu relatório “A Educação das Crianças Refugiadas: Uma Janela para o Futuro”, a ACNUR enumera alguns dos benefícios que a educação traz para essas crianças:

  • Desenvolvimento Pessoal: A educação ajuda as crianças a descobrirem suas habilidades e capacidades, essenciais para seu futuro profissional.
  • Recuperação da Infância: Frequentar a escola permite que as crianças deslocadas experimentem a infância e se adaptem melhor à nova realidade.
  • Proteção e Segurança: As escolas nos campos de refugiados protegem as crianças dos perigos cotidianos presentes nesses ambientes.
  • Autonomia para as Mães: As mães podem se dedicar a atividades econômicas e formativas enquanto seus filhos estão na escola, melhorando a sobrevivência familiar.
  • Liberação dos Irmãos Mais Velhos: Os irmãos mais velhos se libertam da responsabilidade de cuidar dos mais novos, permitindo que também frequentem a escola e ganhem independência.

Desafios da Educação em Ambientes de Refúgio

As crianças refugiadas enfrentam desafios sérios e variados para acessar uma educação de qualidade e em condições de igualdade com outras crianças.

  • Escassez de Professores: A demanda por professores nos campos de refugiados é alta e, muitas vezes, mesmo com o apoio de professores voluntários, as necessidades educacionais não são atendidas. A falta de professores qualificados afeta a qualidade da educação, dificultando o desenvolvimento acadêmico e pessoal das crianças.
  • Salas de Aula Insuficientes e Mal Equipadas: A cada dia, novas crianças ingressam nas classes dos campos de refugiados, criando a necessidade de construir mais salas de aula. Essas salas devem ser adequadamente equipadas com carteiras, quadros negros, latrinas e espaços para limpeza e higiene. Sem essas instalações, é difícil proporcionar um ambiente de aprendizagem adequado e seguro.
  • Falta de Recursos Alimentares: As escolas para crianças refugiadas frequentemente carecem de orçamento para fornecer ao menos uma refeição diária ou um lanche aos alunos. A desnutrição e a falta de alimentos adequados afetam negativamente a capacidade das crianças de se concentrar e aprender, além de impactar sua saúde geral.
  • Ausência de Material Escolar: As doações e materiais reciclados que chegam aos campos são insuficientes. Muitas crianças não têm acesso a cadernos, livros, lápis, tintas e outros itens comuns na escola. Também faltam uniformes e calçados, o que pode afetar sua autoestima e desejo de frequentar a escola.
  • Falta de Atividades Extracurriculares: Recursos escassos também impedem a realização de programas de atividades após o horário escolar. Essas atividades poderiam beneficiar o desenvolvimento social e emocional das crianças, proporcionando um uso construtivo de seu tempo livre e ajudando-as a esquecer, pelo menos temporariamente, as dificuldades de sua situação.
  • Discriminação: Em alguns casos, as famílias evitam que seus filhos frequentem as escolas dos campos de refugiados para evitar compartilhar espaço com pessoas de diferentes crenças ou ideologias. Essa discriminação pode limitar as oportunidades educacionais das crianças e perpetuar a intolerância e o conflito.
  • Percepções Culturais Negativas sobre a Educação: Alguns pais não valorizam a educação, especialmente quando se trata de meninas. Eles ignoram os apelos das organizações de assistência para que seus filhos frequentem as escolas dos campos de refugiados. Os professores precisam combater muitos preconceitos que ainda persistem sobre a educação e os métodos de ensino, dificultando a inclusão de todas as crianças no sistema educacional.
  • Casamentos Precoces e Gravidez: A gravidez precoce e os casamentos de meninas ou adolescentes patrocinados por suas famílias são obstáculos significativos para que os adolescentes participem dos programas educacionais para refugiados. Ao se tornarem mães ou esposas, meninas e adolescentes veem suas opções educacionais significativamente reduzidas, perpetuando o ciclo de pobreza e falta de oportunidades.

O Que Estamos Fazendo para Superar esses Obstáculos

  • Modelo em Contextos Humanitários da Fundação ProFuturo: Em 2017, a ProFuturo começou a adaptar seu programa de Educação Digital a contextos de crise com o objetivo de favorecer o acesso a uma educação digital de qualidade para essas crianças em campos, centros de reforço e assentamentos informais em ambientes urbanos ou rurais. O modelo possui um enfoque holístico, baseado nos padrões oferecidos pela Rede Interagencial para a Educação em Situações de Emergência (INEE), mas também dedica uma atenção especial à formação docente, um dos pilares dos programas da Fundação. Nesse sentido, a ProFuturo oferece formação, acompanhamento e apoio contínuo aos professores para impulsionar a integração da tecnologia no processo de ensino. Isso é importante porque fortalece a capacidade e a confiança dos professores para utilizar os recursos digitais dentro da sala de aula e proporciona oportunidades de aprendizado atraentes para os estudantes. Também presta atenção à participação comunitária e oferece apoio psicossocial, além de materiais didáticos.
  • Pacote de Formação para Professores de Ensino Primário em Situações de Emergência (INEE): Este pacote de formação responde a uma carência crítica de materiais de formação de professores de código aberto, baseados em competências, que ofereçam uma cobertura dos conhecimentos e habilidades fundamentais que os professores precisam em contextos de crise, onde a formação de professores geralmente se limita a oficinas ad hoc. Oferece conteúdos básicos sobre o papel e o bem-estar do professor; a proteção, o bem-estar e a inclusão das crianças; a pedagogia; o currículo e o planejamento; e o conhecimento das matérias.
  • Borderless Higher Education for Refugees (BHER): O BHER oferece programas universitários acreditados aos professores locais que trabalham sem formação nos campos de refugiados do sul do Quênia. O projeto foca na educação dos refugiados presos em exílio prolongado na cidade de Dadaab, que estão há mais de 15 anos em uma região desatendida onde os recursos e apoios para o aprendizado são escassos. Ao desenvolver a capacidade dos professores e líderes refugiados e locais, eles próprios podem melhorar a educação e implementar soluções locais nos campos e na comunidade. Utiliza uma fórmula de aprendizado misto, que combina aprendizado online e instrução presencial, através de uma série de palestras dadas por professores externos que visitam Dadaab após suas aulas e durante as férias escolares.
  • Thaki: Alfabetização Digital para Crianças em Situação de Refúgio: Criada por uma mulher que foi ela mesma uma criança refugiada, Thaki é uma iniciativa que oferece dispositivos e conteúdos educativos digitais para crianças e jovens refugiados, promovendo sua alfabetização digital e liberando seu potencial futuro. Baseia-se em um processo simples: coletam computadores usados, doados por empresas que já não os necessitam, carregam-nos com software e conteúdos educativos interativos e multilíngues de alta qualidade e disponíveis offline, e os entregam diretamente às pessoas refugiadas para que possam usá-los na sua educação: crianças, estudantes e bolsistas universitários.
  • Antura and the Letters: Jogando pela Paz na Síria: Antura é um cachorrinho que ajuda as crianças sírias a aprender as letras e completar um currículo básico de alfabetização, em inglês e árabe. Antura and the Letters é um jogo educativo, criado em colaboração pelo Cologne Game Lab, Wixel Studios, e Video Games Without Borders, que tem como objetivo pedagógico o ensino do idioma árabe e, como objetivo psicossocial, o apoio ao bem-estar do aprendiz. O jogo contém seis mapas de viagem, que correspondem às seis etapas principais do currículo escolar primário sírio.
  • Educar para a Paz: Uma Necessidade Vital: Embora seja verdade que a educação não provoca guerras, nem as acaba, os sistemas educativos frequentemente contribuem para criar condições propícias ao desencadeamento de um conflito armado e também podem ajudar a criar sociedades mais pacíficas, coesas e resilientes, evitando assim o retorno da violência. Isso é afirmado pela UNESCO. Por isso, na ProFuturo, acreditamos que a educação para a paz e para a cidadania global é tão importante hoje em dia quanto Matemática ou alfabetização. Pensamento crítico, colaboração, trabalho em equipe… Porque, hoje mais do que nunca, precisamos de cidadãos comprometidos com a paz. Educação para Compartilhar e ProFuturo se uniram para criar o Club 2030, uma proposta educativa para desenvolver, a partir do digital, competências-chave que promovam a cidadania global, ajudando a construir sociedades mais pacíficas e justas para todos.

 

 

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