Uma taxonomia pedagógica para selecionar os recursos ideais na continuidade do processo de aprendizado a distância

Uma taxonomia pedagógica para selecionar os recursos ideais na continuidade do processo de ensino a distância.

Uma taxonomia pedagógica para selecionar os recursos ideais na continuidade do processo de aprendizado a distância

A pandemia apresentou grandes desafios nesta nova década, especialmente no cenário educacional, afetando quase 1,6 bilhões de estudantes em mais de 190 países. O fechamento de escolas, universidades e centros de formação afetou 94% da população de estudantes em todo o mundo. O confinamento causado pelo coronavírus modificou o paradigma sob o qual os sistemas educacionais vêm operando, forçando a aplicação de métodos de aprendizado a distância que têm permitido que docentes e alunos deem continuidade às lições planejadas. Após vários meses nessas condições, surgiu a necessidade de conceber um procedimento que responda aos desafios que emergiram com essa crise global. A desigualdade digital na educação aumentou, e uma grande porcentagem de alunos encontra-se em risco de exclusão devido à falta de dispositivos eletrônicos para poderem realizar as atividades do curso em suas casas. Várias medidas foram propostas pelos países ao longo do ano letivo, mas há uma necessidade contínua de estabelecer-se formas alternativas de aprendizado voltadas aos alunos que não possuem as ferramentas tecnológicas necessárias.

Muitas instituições têm trabalhado para enfrentar os desafios colocados após o fechamento das escolas. Agora, nosso foco está voltado para o produto que nasce da colaboração entre a OCDE, o Banco Mundial, a Organização HundrED e a Escola de Educação de Harvard. O objetivo é construir um guia fundamentado, dirigido aos líderes educacionais para o novo ano letivo que está chegando, o de 2020/2021. O desenvolvimento do documento foi liderado por Fernando Reimers, da Iniciativa de inovação no ensino global da Universidade de Harvard; Andreas Schleicher, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); Jaime Saavedra, do Banco Mundial; e Saku Tuominen, da organização HundrED.

No final de março de 2020, foi publicado um primeiro módulo a partir de uma pesquisa realizada entre os dias 18 e 27 de março, com o objetivo de avaliar os problemas emergentes e as prioridades do sistema. O segundo módulo caracterizou-se pelo lançamento de recursos educacionais de apoio à continuidade da formação e aprendizado a distância durante o confinamento. Os recursos foram recolhidos a partir das respostas obtidas nas pesquisas realizadas no primeiro módulo. Os módulos subsequentes reúnem todas as iniciativas de difusão de conteúdos educacionais por meio de mídias tradicionais, como rádio e televisão. É um módulo que apresenta um guia para a aplicação efetiva dos recursos por meio dessas mídias.

O guia foi criado após a realização de uma pesquisa com 333 participantes em 99 países, identificando os recursos educacionais que foram mais úteis para eles no processo de ensino a distância. Cerca de 19 ex-alunos do mestrado da escola de estudos de pós-graduação de Harvard atuaram como avaliadores das ferramentas selecionadas pelos docentes pesquisados. A equipe de avaliação analisou cada uma das ferramentas, procedendo a sua classificação por matéria, grau e idioma. Foi realizada uma codificação de cada recurso instrucional classificado por competências necessárias.

A classificação dos recursos selecionados foi realizada em três categorias principais:

  1. Recursos curriculares. Eles fazem referências a lições, conteúdos interativos de aprendizado, vídeos e outros recursos que envolvam a aquisição de conhecimentos e habilidades. Um total de 72 plataformas, que se referem a vários repositórios de recursos, foi compilado neste guia.
  2. Recursos para desenvolvimento profissional. São recursos de apoio a professores e pais que servem de guia de aprendizado no processo de formação a distância. Foram coletados 21 recursos de desenvolvimento.
  3. Ferramentas para gerenciar o processo de ensino e aprendizado. Instrumentos de comunicação e ferramentas para a gestão do aprendizado foram incluídos.

A codificação e a taxonomia foram realizadas tomando como referência o estudo de Pellegrino e Hilton realizado em 2012, Educação para a vida e o trabalho: desenvolvimento de conhecimentos e habilidades transferíveis no século XXI.

Os recursos foram classificados e codificados levando em consideração os seguintes parâmetros:

  1. Habilidades cognitivas. Eles incluem três grupos de competências: processos e estratégias cognitivas, conhecimento e criatividade. A partir disso, são desenvolvidas habilidades como pensamento crítico, alfabetização, raciocínio, argumentação e inovação.
    • Processos e estratégias cognitivas. As seguintes competências foram codificadas: pensamento crítico (CT), resolução de problemas (PS), análise (A), raciocínio lógico (LR), interpretação (I), tomada de decisões (DM) e funcionamento executivo (EF).
    • Conhecimento. As competências coletadas foram: habilidades de alfabetização e comunicação (LC), habilidades de escuta ativa (AL), conhecimento de disciplinas (KD), capacidade de avaliação de erros de informação (EV) e alfabetização digital (DL).
    • Criatividade. Engloba a criatividade (C) e a inovação (In).
  1. Habilidades interpessoais. Inclui dois grupos de competências: o trabalho em equipe e a liderança. Se caracteriza pela conjunção de habilidades como comunicação, colaboração, responsabilidade e resolução de conflitos.
    • Habilidades de grupo colaborativo. Inclui: a comunicação (Cm), a colaboração (Cl), o trabalho em equipe (TW), a cooperação (Cp), a coordenação (Cd), a empatia, a perspectiva e o diálogo (EP), a confiança (Tr), a orientação aos serviços (SO), a resolução de conflitos (CR) e a negociação (Ne).
    • Liderança (Le). Abrange a responsabilidade (Re), a comunicação assertiva (AC), a autoapresentação (SP) e a influência social (SI).
  1. Habilidades intrapessoais. Faz referência a três grupos de competências: abertura intelectual, ética e consciência de trabalho e autoavaliação. Esses grupos incluem competências como flexibilidade, iniciativa, diversidade e metacognição (capacidade de refletir sobre o aprendizado e fazer os ajustes necessários). Existem duas habilidades coletadas neste estudo para codificar os recursos selecionados com base em:
    • Abertura intelectual. Inclui as seguintes competências: flexibilidade (Fl), adaptabilidade (Ad), apreciação artística e cultural (Ar), responsabilidade pessoal e social (PS), competência intercultural (IC), apreço pela diversidade (AD), capacidade de aprendizado ao longo da vida (CL) e interesse intelectual (Il).
    • Ética e responsabilidade de trabalho. Abrange iniciativa (Ini), autodireção (SD), responsabilidade (Res), perseverança (Pe), produtividade (Pr), persistência (Pt), autorregulação (SR), habilidades metacognitivas e reflexivas (MT), profissionalismo (Pro), ética (Eth), integridade (Int), cidadania (Cit) e orientação para o trabalho (WO).
    • Autoeficácia. Inclui autoavaliação (SA) e saúde física e mental (PMH).

Foram selecionadas e avaliadas 113 plataformas, divididas em duas tabelas. A primeira contempla os recursos curriculares, e a segunda abrange os recursos de desenvolvimento profissional avaliados de acordo com os seguintes critérios: idioma, cursos, disciplinas, custo (gratuito ou remunerado), habilidades cognitivas, habilidades interpessoais e habilidades intrapessoais.

Entre as plataformas que reúnem os três grupos de habilidades, destacam-se as seguintes:

Como recursos curriculares:

  • https://www.icourse163.org/ Se trata de uma plataforma da Web para cursos MOOC. Abriga os cursos das melhores universidades chinesas.
  • https://open.163.com/ É uma das maiores plataformas MOOC não governamentais da China. Inclui não apenas cursos em chinês para todas as disciplinas, mas também formações em inglês.
  • http://s1k.eduyun.cn/ Sob o nome de “One Teacher One Course”, (“Um professor, um curso”, em tradução livre), encontramos uma plataforma educacional governamental que possui milhões de cursos e recursos multimídia para apoio curricular a professores em toda a China. A plataforma destina-se ao ensino fundamental, médio e especial.
  • https://pangeaeducation.org/covid19 É uma plataforma de conteúdo literário gratuito, disponível em mais de 10 idiomas voltada ao mercado africano.
  • http://www.telesecundaria.sep.gob.mx/ Telesecundaria é um programa escolar mexicano para alunos do sétimo ao nono ano. Foi estabelecido pelo governo do México na década de 1960 para os estudantes de áreas rurais. Por meio desse programa, os estudantes recebem lições através de uma televisão instalada em uma sala de aula. Na Web, você pode acessar todos os recursos multimídia disponíveis no programa. Os estudantes que entram devem ser registrados desde o início do curso escolar.
  • http://www.librosdetexto.sep.gob.mx/ Plataforma pela qual é possível acessar gratuitamente todos os livros didáticos elaborados e usados pela Secretaria de Educação do México. O conteúdo está disponível a todas as disciplinas, da pré-escola à nona série.
  • http://www.alianzaeducativa.edu.co/ A Alianza Educativa desenvolveu uma coleção de recursos de aprendizado dirigida a todos os alunos com acesso à Internet. Se trata de um repositório organizado por cursos e por programa escolar. Cada um dos níveis está vinculado a um tópico aberto no Google, disponível para baixar o conteúdo.

Como recursos de desenvolvimento profissional:

  • http://www.knotion.com/ Uma plataforma destinada a escolas e docentes interessados em incorporar o design instrucional em seu modelo pedagógico.

A terceira tabela do guia relaciona todas as ferramentas utilizadas por alunos, docentes e familiares durante o período de confinamento, e classifica-as considerando as seguintes categorias: idioma e custo. Dentre elas, sublinham-se: Microsoft OneNote, Microsoft Teams, EdDojo, Zoom, Moodle, Seesaw, Google-Suite, Google Classroom, Kahoot, Nearpod e FlipGrid.

Após análise minuciosa, aproximadamente metade dos recursos coletados na pesquisa foram preservados, o que a equipe de revisão avaliou como de alta qualidade. Considera-se que a crise educacional gerada pela pandemia está longe de terminar. Muitos países ainda não anunciaram a data exata de reabertura de escolas. E diante dos contínuos novos surtos do vírus, o cenário educacional está paralisado enquanto se aguarda a tomada de decisões pelos órgãos competentes.

Prevenir uma crise de aprendizado requer uma ação urgente de todos. Sob um panorama de incertezas em relação à abertura das escolas, este documento se configura como um guia essencial para o apoio ao docente no processo de formação e aprendizado. Ele pode enriquecer uma proposta de aprendizado presencial, híbrido ou a distância, sempre poupando a questão das desigualdades sociais que em diferentes regiões, devido as suas condições de contexto, teriam capacidade limitada para aproveitar ao máximo os recursos que essa taxonomia suscita.

Acesse o documento completo:

Taxonomía pedagógica

Você está participando de alguma iniciativa que vise garantir a continuidade do aprendizado durante a crise global de COVID-19? Compartilhe sua iniciativa AQUI!

Você também pode estar interessado em…