Melhorando as Competências Digitais dos Professores em Mato Grosso

À medida que as novas tecnologias transformam todos os setores da nossa sociedade e, com isso, o cenário laboral, a habilidade de navegar, entender e aplicar ferramentas digitais torna-se uma competência essencial. Os alunos que dominam essas habilidades estão mais bem preparados para enfrentar os desafios do futuro, adaptar-se a novos ambientes de trabalho e contribuir de forma inovadora para a sociedade. Além disso, como sabemos, as competências digitais também promovem o pensamento crítico, a resolução de problemas e a criatividade, habilidades altamente valorizadas no mundo contemporâneo.

A implementação dessas competências nos coloca diante do desafio de capacitar os professores, que são essenciais para desenvolver essas habilidades nos alunos. Para enfrentar esse desafio, a Fundação Telefônica Vivo e o Instituto Natura se aliaram no Brasil para desenvolver o Programa de Formação de Professores em Competências Digitais, com o objetivo de que professores e gestores desenvolvam competências digitais para incorporá-las em suas práticas pedagógicas.

A implementação desse programa encontrou uma ótima receptividade no estado de Mato Grosso, uma região já bastante comprometida com a incorporação de tecnologias digitais para melhorar a educação e que já possuía uma política específica, “Educação 10 anos”, focada na formação contínua de professores e na sua integração tecnológica. Esses interesses comuns se materializaram em uma aliança, o “Pacto pela Digitalização”, estabelecida em 2022 entre o estado de Mato Grosso, a Fundação Telefônica Vivo e o Instituto Natura para promover o desenvolvimento de competências digitais e práticas educacionais inovadoras.

Este artigo compartilha e analisa os resultados da implementação dessa aliança, que foram documentados no relatório “Sistematização da Implementação do Programa de Formação de Professores em Competências Digitais em Mato Grosso”.

O Programa de Formação de Professores em Competências Digitais

O Programa de Formação de Professores em Competências Digitais foca-se no desenvolvimento e implementação de políticas públicas que garantam que professores, gestores e técnicos tenham as competências digitais necessárias para melhorar a aprendizagem dos alunos. Inclui várias estratégias e ações:

• Avaliação diagnóstica: O primeiro passo da implementação do Programa incluiu a compreensão do ponto de partida dos professores do estado em relação ao uso e conhecimento dos recursos tecnológicos. Para isso, foi utilizada a ferramenta de autoavaliação de competências digitais (Guia EduTec, desenvolvida pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira, CIEB), que permite mapear o nível de apropriação de competências digitais dos professores.
• Rotas formativas: A partir dos resultados obtidos na autoavaliação, os professores foram orientados para as formações que melhor respondiam às suas necessidades de desenvolvimento. Foram oferecidas rotas compostas por diversos cursos, desmembrados em três áreas: pedagogia, cidadania digital e desenvolvimento profissional, em formato híbrido e com cargas horárias variadas.
• Política de reconhecimento: Por fim, foram implementados sistemas de certificação e prêmios para motivar e reconhecer o desenvolvimento profissional contínuo dos professores.

Os cursos, que cobriram uma ampla gama de tópicos como a integração da tecnologia na educação, o desenvolvimento de competências socioemocionais e a promoção da equidade e inclusão na sala de aula, foram estruturados em vários níveis de competência (níveis 3, 4 e 5) e ofereceram até 66 horas de formação, distribuídas em dois semestres de 33 horas cada. Durante 2023, participaram dos cursos 19.822 professores, que completaram uma média de 5,8 cursos por professor. A plataforma Escolas Conectadas facilitou o acesso a essas formações, promovendo ampla participação e permitindo o acompanhamento contínuo do progresso dos participantes.

Resultados do Programa

No que se refere aos resultados, estes têm sido notáveis, destacando a importância da capacitação tecnológica para os educadores em um ambiente educacional em constante evolução. Como veremos, ao longo da sua execução, o programa melhorou significativamente as competências digitais dos professores e revelou aspectos-chave sobre a eficácia da formação e as estratégias necessárias para o seu sucesso. A seguir, apresentamos as principais conclusões e conquistas, proporcionando uma visão integral do impacto e das lições aprendidas.

• Aumento significativo no nível de competências: Entre 2022 e 2023, o percentual de professores classificados em níveis superiores de conhecimento tecnológico aumentou significativamente de 25,4% para 52,6%. Este aumento representa uma variação positiva de 27,2 pontos percentuais, equivalente a um avanço relativo de 107%.
• Impacto da formação: Os professores que participaram de 10 a 25 horas de formação mostraram um avanço médio de 1.1578 pontos no seu nível de apropriação tecnológica em comparação com aqueles que participaram de menos de 10 horas de formação. No entanto, identificou-se um ponto de saturação em que mais horas de formação não necessariamente se traduzem em maiores avanços. Isso se deve ao fato de que, após um certo ponto, a eficiência do aprendizado pode diminuir se não for acompanhada de uma complexidade adequada (à medida que os participantes avançam na sua formação, é importante que o conteúdo se ajuste em complexidade para manter um nível de desafio apropriado) e demanda tecnológica (se a tecnologia ensinada for muito básica ou não se ajustar às necessidades práticas dos professores, a motivação e a eficiência do aprendizado podem ser afetadas).
• Não são apenas as horas: O programa de formação de professores em competências digitais implementado em Mato Grosso revelou que a eficácia da formação não depende apenas da quantidade de horas investidas, mas também de outros fatores-chave, como o grau de complexidade do conteúdo e a demanda tecnológica dos cursos. Por exemplo, os cursos que apresentam conteúdos complexos e altamente relevantes tendem a ser mais eficazes porque fornecem aos professores ferramentas e conhecimentos que podem ser aplicados diretamente na sua prática pedagógica.
• Melhores resultados em níveis iniciais mais baixos: Os resultados mostraram que os professores com níveis iniciais mais baixos apresentaram maiores avanços em comparação com aqueles que já tinham um nível mais alto de competência digital no início.
• Participação e compromisso: O elevado número de professores que participaram das formações (19.746 professores) demonstra seu compromisso e entusiasmo em melhorar suas competências digitais e seu interesse em se adaptar às novas demandas tecnológicas no âmbito educacional.

No que se refere aos fatores que contribuíram para esse sucesso, podemos destacar os seguintes:

1. Infraestrutura e conectividade: A provisão de mais de 180.000 Chromebooks e 10.250 smart TVs, junto com a melhoria do serviço de internet nas escolas, foi crucial para garantir que tanto alunos quanto professores tenham acesso às ferramentas necessárias.
2. Formação contínua e suporte: A oferta de rotas formativas personalizadas e complementares por meio da plataforma Escolas Conectadas permitiu que os professores tivessem acesso a uma ampla variedade de cursos adaptados às suas necessidades e níveis de competência.
3. Monitoramento e avaliação: A utilização de ferramentas como a Guia EduTec para a autoavaliação de competências digitais foi fundamental para mapear e direcionar o desenvolvimento profissional dos professores de forma eficaz. Por meio desse processo, a Secretaria de Mato Grosso pôde direcionar as ações formativas de forma mais precisa, com base nos resultados do diagnóstico inicial das competências digitais dos professores.
4. Política de reconhecimento: A implementação de sistemas de certificação e prêmios incentivou os professores a participar ativamente e a continuar melhorando suas habilidades digitais. Esses sistemas incluem a entrega de certificados e reconhecimentos, bem como bolsas para formadores e multiplicadores. Além disso, foi integrado um Sistema de Avaliação de Desempenho e uma atualização da Política de Remuneração, que inclui a possibilidade de receber até um 15º salário com base na realização de horas mínimas de formação contínua.
5. Apoio institucional e colaboração entre organizações: O sucesso do Programa de Formação de Professores em Competências Digitais em Mato Grosso deve-se em grande parte ao apoio institucional e à colaboração entre diversas entidades, como a já mencionada Fundação Telefônica Vivo, o Instituto Natura e a Secretaria de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT), no âmbito do programa Educação 10 anos e do Pacto pela Digitalização. Essa aliança permitiu uma implementação integral e sustentável do programa. A Coalizão Tec Educação, que reúne essas e outras organizações, trabalhou em frentes-chave como infraestrutura, gestão de tecnologias e formação pedagógica. Além disso, a criação de um comitê gestor executivo e a implementação de sistemas de certificação e avaliação contínua garantiram a eficácia e a sustentabilidade do programa.

E agora?

Após o sucesso inicial do Programa de Formação de Professores em Competências Digitais em Mato Grosso, é fundamental refletir sobre os próximos passos para consolidar e ampliar as conquistas obtidas. A seguir, veremos as lições que emergem dessa experiência e que devem orientar os próximos passos do programa.

• Aperfeiçoamento na coleta de dados: A análise dos resultados da Guia EduTec revelou, por exemplo, que há espaço para melhorar a coleta de informações associada ao preenchimento da autoavaliação por parte dos professores e gestores escolares. Essa abordagem não só ajudaria a mitigar os problemas relacionados à escassez da amostra, mas também promoveria uma participação mais comprometida e responsável. O aumento do número de observações de referência permitiria estudos mais amplos e precisos sobre as correlações entre o desempenho dos professores e as formações que realizam.

• Expansão do programa: Este Programa foi concebido como um piloto e deve ser otimizado e escalado para outras localidades nos próximos anos. À medida que novas experiências e contextos se integrem à análise, esta se tornará mais robusta e completa. Portanto, a inclusão de outras regiões no Programa é um próximo passo essencial para melhorar as avaliações de resultados.
• Monitoramento constante: O verdadeiro sucesso do Programa dependerá de um monitoramento frequente e de ações contínuas que garantam sua sustentabilidade a longo prazo. O apoio para a revisão curricular e a adequação dos materiais de apoio das formações contínuas da rede são exemplos de ações necessárias. Espera-se que o sucesso da experiência em Mato Grosso se fortaleça nos próximos anos.

Para acessar o relatório completo, clique aqui.

Referências

“Sistematização da Implementação do Programa de Formação de Professores em Competências Digitais em Mato Grosso.” Coalizão Tec Educação. Disponível em Fundação Telefônica Vivo.