Todo 5 de outubro é celebrado o Dia Mundial dos Professores, em comemoração à Recomendação da OIT e UNESCO sobre a Situação do Pessoal Docente, de 1966. Esta recomendação promove ações nacionais e internacionais para enfrentar a escassez de professores no mundo, melhorar suas condições profissionais, sociais e econômicas e promover sua formação e desenvolvimento contínuos.
Em 2023, a UNESCO e a Teacher Task Force (TTF) publicaram o Relatório Mundial sobre o Pessoal Docente: Enfrentando a Escassez de Professores, que, apesar dos avanços na profissionalização da docência, revela um cenário de desafios semelhante ao descrito na década de 1960. Segundo o relatório, há uma escassez global de mais de 44 milhões de professores, número necessário para atender à demanda por educação primária e secundária universal. Além disso, a profissão enfrenta altos índices de rotatividade e abandono, salários insuficientes em comparação com profissões similares, pouca formação em tecnologias da informação e professores com alta vocação, mas insatisfeitos com seus salários e reconhecimento social.
Como podemos projetar intervenções educacionais que promovam a profissionalização docente, aprimorem suas competências digitais e revolucionem as práticas de ensino? Vamos ver isso a seguir.
Repensando o Modelo Aberto da ProFuturo
O Modelo Aberto da ProFuturo é uma iniciativa de grande alcance que oferece formação para professores em todo o mundo, em modalidades presenciais e online. Com foco na aprendizagem digital, essa proposta promove capacitação em inovação educacional, liderança, comunicação e planejamento pedagógico. Em termos de alcance, somente na América Latina e Caribe, a modalidade massiva da ProFuturo certificou mais de 1,1 milhão de professores, representando cerca de 16,3% do total de docentes da região, demonstrando o impacto e a abrangência de sua oferta formativa.
O Modelo Aberto da ProFuturo nasce da compreensão de que professores, especialmente em contextos vulneráveis, enfrentam múltiplas barreiras que limitam seu desenvolvimento profissional. Esses desafios incluem a falta de infraestrutura adequada nas escolas, a ausência de estruturas institucionais que promovam sua formação contínua, a carência de programas adequados para desenvolver competências digitais, sobrecarga de trabalho e, em alguns casos, resistência à mudança tecnológica. Essas condições não apenas ampliam as lacunas no desenvolvimento profissional docente, mas também geram desigualdades entre os alunos que têm acesso a oportunidades educativas com professores mais bem formados, infraestrutura adequada e equipamento tecnológico, e aqueles que não possuem essas oportunidades.
Nesse contexto, o principal desafio que o Modelo Aberto da ProFuturo deve enfrentar é o desenvolvimento limitado de competências digitais dos professores, fundamental para a integração eficaz das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem. A falta dessas competências limita a capacidade dos professores de se adaptarem às exigências da educação na era digital e de atenderem às demandas dos estudantes.
Como uma organização complexa, com ampla presença internacional, como a ProFuturo, pode alinhar prioridades, objetivos e, sobretudo, desenvolver uma abordagem eficaz para enfrentar esses desafios?
Uma Comunidade que Dialoga e Desenha: Comunidade de Melhoria em Rede da ProFuturo
Organizações multilaterais, filantrópicas e fundações internacionais que implementam programas educacionais em múltiplos contextos enfrentam desafios complexos ao projetar modelos de intervenção que sejam eficazes, relevantes e significativos para professores com necessidades muito distintas. Enfrentar esses desafios exige reconhecer a complexidade da tarefa—resolver as tensões derivadas da coordenação entre múltiplos atores para alinhar agendas, prioridades, abordagens e recursos. Além disso, é preciso lidar com a pressão para garantir recursos financeiros e humanos que permitam implementar e monitorar sistemas de gestão eficientes. Igualmente, é crucial manter uma comunicação fluida e processos decisórios claros entre os responsáveis pela execução dos programas educativos. No entanto, as diferenças culturais, linguísticas e organizacionais podem dificultar a realização desses objetivos e afetar os processos de tomada de decisão.
No campo da educação, uma estratégia que tem se mostrado eficaz para enfrentar essa complexidade é o design colaborativo de modelos que reduzam a distância entre pesquisa, inovação e prática pedagógica. Nessa linha, as Comunidades de Melhoria em Rede (NIC, na sigla em inglês para Networked Improvement Community) oferecem um espaço em que pesquisadores, designers, implementadores e educadores colaboram para encontrar soluções para problemas educacionais prioritários. Utilizando ciclos rápidos de melhoria, as NICs focam na definição de objetivos, na avaliação das mudanças e na busca de estratégias de implementação eficazes.
A criação de uma Comunidade de Melhoria em Rede na ProFuturo, composta por representantes da equipe na América Latina encarregados de implementar o Modelo Aberto, permitiu avançar de uma problemática centrada nos processos decisórios e na falta de consenso sobre a estratégia e o alcance do programa, para um enfoque que coloca no centro do Modelo Aberto as oportunidades e barreiras para o desenvolvimento profissional docente. Assim, as sessões de trabalho da comunidade têm permitido enfatizar o desenvolvimento limitado de competências digitais entre os professores, o que afeta sua capacidade de inovação e sua habilidade de integrar efetivamente as tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem.
A partir desse diagnóstico, um dos objetivos fundamentais para o Modelo Aberto é transformar a prática docente através do fortalecimento de competências digitais e pedagógicas, permitindo aos professores integrar a tecnologia de maneira eficaz e desenvolver inovações educacionais adaptadas a seus diversos contextos de ensino.
Que tipos de ações formativas, segundo a pesquisa educacional, impulsionam a aprendizagem profissional docente? Como podem ser projetados modelos de intervenção que utilizem esse conhecimento?
Rumo a uma Teoria da Mudança para o Desenvolvimento Profissional Docente
Desde o chamado da OIT e UNESCO há mais de 50 anos para fortalecer a colaboração entre pesquisadores e professores, o campo da pesquisa evoluiu exponencialmente, ampliando o conhecimento sobre os mecanismos mais eficazes para o desenvolvimento profissional docente. Esse crescimento permitiu identificar princípios fundamentais, entre eles a importância de focar os esforços no fortalecimento da prática pedagógica através de novas técnicas de ensino que ampliem o repertório didático dos professores.
A formação profissional deve integrar a investigação colaborativa e a prática reflexiva em grupos de professores. Essas práticas colaborativas devem se orientar para melhorar as dinâmicas de feedback, criando espaços para que os professores se desenvolvam com base em suas necessidades e desafios específicos. Além disso, evidências mostram que quando os professores têm acesso a redes de apoio social e a um acompanhamento especializado, os programas de desenvolvimento profissional tornam-se significativos e altamente eficazes.
Uma Comunidade que Reflete e Desenha
A Comunidade de Melhoria criada para repensar o alcance e a eficácia do Modelo Aberto da ProFuturo tem sido um espaço de troca e aprendizado mútuo, que aos poucos identifica áreas de melhoria do programa, com foco no digital, abrindo caminho para responder aos desafios atuais da profissão docente. Estamos convencidos de que esse esforço coletivo terá um impacto significativo no design de novas ofertas de capacitação que permitirão expandir e melhorar as oportunidades de desenvolvimento profissional para todos os docentes, atendendo às suas necessidades específicas e considerando as circunstâncias em que exercem sua prática profissional.
Agradecemos aos colegas da ProFuturo que, nos últimos meses, compartilharam suas experiências, ideias e conhecimentos para repensar o Modelo Aberto: Olga Angélica Alarcón, Enrique Javier Alvarado, Gina Biasini, Gustavo Blanco, Michelle Bettine, Juan Bevaqua, Nidia Chávez, José Manuel Carrillo, María José Caro, Karina Daidone, María Fernández, Mónica Hernández, Carlos Alberto Hernández, Yennifer Hernández, Diana Hincapié, Irene Jiménez Flor, Ana Mancera, Ana María Moreno, María Noel, Lilian Moore, Ana Daniela Naranjo, Beatriz Ríos, Marina Sanz, Iris Santos, Martín Torres, Yurani Alexandra Gutiérrez Torres, José Carlos Vásquez, Rodrigo Loayza, María Dolores Martínez, Valentina Ríos, Virginia Soto, Milada Tonarelli, Raquel Valencia, Enrique Vázquez e Alejandro Zamora.