7 Formas de Transformar a Educação

Apesar dos avanços significativos, milhões de meninas e meninos ainda enfrentam barreiras para acessar a educação, seja por falta de recursos, desigualdades estruturais ou sistemas educacionais desatualizados que não atendem às necessidades atuais. Um novo relatório da UNESCO analisa como os países estão enfrentando esses desafios e quais medidas estão adotando para cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS 4), que busca garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos. Exploramos isso neste artigo.

7 Formas de Transformar a Educação

Tecnología e infancia

Você já se perguntou o que as nações estão fazendo para garantir que todos recebam uma educação de qualidade? O cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS 4), que busca oferecer uma formação inclusiva, equitativa e transformadora para todas as pessoas, gerou um forte compromisso internacional, pelo menos na teoria. Esse esforço envolve reformas curriculares e políticas governamentais em todo o mundo. Alguns países conseguiram avanços significativos, enquanto outros enfrentam dificuldades relacionadas ao financiamento, à capacitação de professores e à desigualdade digital. No entanto, há um consenso global crescente sobre a necessidade de repensar o ensino para adaptá-lo às demandas atuais.

Um novo relatório da UNESCO trouxe dados reveladores sobre esses esforços. Ele se baseia em uma pesquisa realizada em escala global, na qual 143 países relataram compromissos nacionais voltados para reorientar seus sistemas educacionais a fim de cumprir as metas do ODS 4. Desse total, 91 já implementaram ações específicas para concretizar suas promessas, e 73 incorporaram esse processo de mudança em seus planos e políticas públicas. Esses números refletem um interesse real em renovar a educação, mas também nos lembram da magnitude da tarefa: as reformas não exigem apenas vontade política, mas também recursos financeiros, parcerias institucionais e uma sociedade civil disposta a participar ativamente.

Neste artigo, resumimos algumas das principais conclusões desse relatório da UNESCO e analisamos como os países estão cumprindo seus compromissos com esse ODS.

Inclusão, equidade e igualdade de gênero: uma questão inegociável

O acesso a uma educação de qualidade para todos, independentemente de sua origem, gênero ou condição social, tornou-se um imperativo. Segundo o relatório, 100% dos países pesquisados adotaram medidas para promover a inclusão e a equidade dentro de seus sistemas educacionais. Esse dado é animador, mas é importante reconhecer que a implementação dessas políticas varia consideravelmente entre as regiões, e o nível de profundidade das iniciativas ainda está longe de ser homogêneo.

A inclusão educacional não deve se limitar apenas ao acesso, mas também considerar a qualidade e a permanência dos alunos no sistema. Em relação à igualdade de gênero, 89% dos países relataram ter implementado ações específicas para promover a participação das meninas na educação e empoderá-las para que possam alcançar seu pleno potencial. Essas iniciativas incluem bolsas de estudo para meninas, cotas reservadas em escolas técnicas (uma área historicamente dominada por homens) e programas de apoio como o Programa Nacional de Adolescentes Mães, na Colômbia, que fornece suporte educacional, psicológico e financeiro para que as jovens possam concluir seus estudos e melhorar suas perspectivas profissionais.

Em contextos de conflito e deslocamento forçado, a inclusão educacional também se tornou uma prioridade. Segundo o relatório, em locais afetados por crises, foram desenvolvidas estratégias específicas para integrar esses grupos nos sistemas educacionais nacionais, garantindo que não fiquem para trás no processo de aprendizado.

Por exemplo, a Turquia integrou mais de 700.000 crianças refugiadas sírias em seu sistema educacional, oferecendo programas de integração linguística e acadêmica. Uganda, um dos países com a maior população de refugiados na África, também implementou programas especiais de alfabetização para crianças deslocadas em suas fronteiras. Já o México adotou políticas semelhantes para os migrantes da América Central, criando salas de acolhimento que permitem que crianças migrantes se integrem rapidamente ao sistema educacional sem perder o ano letivo.

Embora avanços importantes tenham sido alcançados, as desigualdades de gênero e de acesso em áreas rurais continuam sendo um desafio, especialmente na África Subsaariana e na América Latina. No entanto, os esforços de inclusão demonstram que, com políticas adequadas e cooperação internacional, é possível avançar rumo a uma educação mais equitativa e acessível para todos.

100% dos países pesquisados adotaram medidas para promover a inclusão e a equidade dentro de seus sistemas educacionais.

Transformação digital como ferramenta

A crescente incorporação da tecnologia é outra característica marcante deste século. Segundo o relatório, 95% dos países desenvolveram ou fortaleceram iniciativas de aprendizado digital, principalmente em resposta à pandemia. O fechamento das escolas levou à busca por alternativas online e ferramentas que mantivessem os alunos conectados ao processo de aprendizado. Embora isso tenha evidenciado a importância da conectividade e do uso de tecnologias digitais, também revelou desigualdades profundas entre áreas urbanas e rurais.Nesse contexto, alguns governos priorizaram a instalação de internet banda larga em escolas remotas, além da distribuição de dispositivos eletrônicos para estudantes que não os possuíam. Na América Latina, destaca-se o Plano CEIBAL, no Uruguai. Ao mesmo tempo, países como a República Dominicana capacitaram cerca de 100.000 professores no uso pedagógico da tecnologia. Já na África Subsaariana, vários projetos recorreram a transmissões de rádio e televisão para alcançar comunidades sem acesso à internet.

Renovação de conteúdos e métodos de ensino

Outro indicador positivo é que 95% dos países renovaram seus currículos e 88% atualizaram seus métodos pedagógicos. Trata-se de um esforço global para alinhar o ensino com as exigências do presente, incorporando competências como pensamento crítico, colaboração e adaptação a um mercado de trabalho em constante transformação. Nesse cenário, temas como sustentabilidade ambiental e formação em competências digitais ganham cada vez mais importância.

Na Alemanha e na Suécia, por exemplo, a educação ambiental é integrada desde os primeiros anos escolares. Já o México aposta em um modelo que incentiva projetos comunitários e uma visão intercultural, valorizando a diversidade linguística e cultural do país. Enquanto isso, várias nações africanas começaram a incluir módulos sobre empreendedorismo e educação financeira, visando fomentar a autonomia econômica desde cedo.

De acordo com a UNESCO, 80% dos países incorporaram conteúdos relacionados ao desenvolvimento sustentável e competências voltadas para a realidade do mercado de trabalho, considerando questões como a crise climática e a digitalização do emprego. No entanto, os formuladores de políticas educacionais devem considerar que não basta atualizar o currículo no papel: é necessário investir na formação de professores, na disponibilização de recursos adequados e em um monitoramento contínuo para avaliar a eficácia das reformas.

Atenção à primeira infância

Os primeiros anos de vida são decisivos para o desenvolvimento cognitivo e emocional. A pesquisa indica que 92% dos países reforçaram a educação pré-escolar com diferentes estratégias. Algumas nações ampliaram a cobertura por meio de subsídios estatais, expandindo a construção de centros de atendimento infantil. Outras focaram seus esforços na atualização dos currículos e na oferta de formação especializada para cuidadores e professores desse nível educacional.

Os exemplos são numerosos: em algumas partes da Ásia, priorizou-se o ensino de habilidades socioemocionais para incentivar a colaboração e a empatia desde a infância. Na América Latina, especialmente na Colômbia e no Peru, foram lançadas iniciativas para equipar as salas de aula da educação infantil com materiais lúdicos e impulsionar programas de nutrição para garantir a saúde das crianças. Por que esse aspecto é tão relevante? A ideia central é que a estimulação precoce estabelece as bases para uma aprendizagem sólida ao longo da vida, contribuindo para a retenção escolar e melhorando o desempenho acadêmico em fases posteriores.

Apesar desses avanços, a falta de infraestrutura e de profissionais capacitados continua sendo um problema em áreas rurais e periurbanas de vários países da África e da América Latina. Além disso, há regiões onde a educação infantil não é obrigatória, o que dificulta a universalização do ensino nessa faixa etária. As disparidades são evidentes e, em certos casos, famílias com menos recursos não conseguem pagar mensalidades de escolas privadas de educação infantil. Daí a importância dos apoios governamentais, que buscam criar ambientes inclusivos e atrativos para as crianças.

O papel central do corpo docente

Seria possível imaginar uma verdadeira transformação educacional sem professores bem preparados? Os dados da UNESCO indicam que 90% dos países adotaram medidas para melhorar a formação e o desenvolvimento profissional dos docentes. Esse número reflete um consenso mundial de que a qualidade do ensino depende diretamente dos professores.

Alguns países implementaram medidas notáveis para suprir essa necessidade. Fala-se, por exemplo, da oferta de incentivos financeiros e programas intensivos de capacitação em regiões onde há maior escassez de professores. Assim, algumas nações optaram por formar, com urgência, docentes de áreas rurais, oferecendo cursos online ou oficinas presenciais intensivas. Outros governos aumentaram os salários e melhoraram as condições de trabalho para incentivar a retenção de profissionais na educação.

Na América Latina, destaca-se o caso do Chile, onde há um programa de formação continuada, focado especialmente na incorporação de ferramentas digitais e metodologias ativas de ensino. No entanto, ainda há países onde os salários permanecem baixos e as oportunidades de crescimento profissional são bastante limitadas.

Governança e financiamento: pilares para a melhoria

A UNESCO aponta que 86% dos países implementaram iniciativas para fortalecer o financiamento da educação. Fala-se frequentemente da necessidade de investir pelo menos 4% do PIB nesse setor, embora nem todos os governos consigam atingir essa meta. Algumas economias tomaram decisões corajosas para aumentar os orçamentos destinados à educação, mesmo em meio a crises econômicas. Um exemplo disso foi a criação de fundos específicos para escolas afetadas por desastres naturais ou conflitos armados.

Em alguns países, os orçamentos educacionais foram protegidos contra cortes, reconhecendo a importância estratégica da educação para o desenvolvimento nacional. Além disso, fortaleceram-se sistemas de gestão de dados educacionais para tornar o uso dos recursos mais transparente e identificar as áreas que demandam mais investimentos. No entanto, persiste a dúvida: até que ponto esses fundos realmente resultam em melhorias concretas para professores e alunos?

A governança do sistema educacional também passa pela colaboração entre diferentes setores. Foram promovidas parcerias entre ministérios da educação, saúde e desenvolvimento social, para que os programas escolares estejam alinhados a políticas públicas voltadas para bem-estar, alimentação e proteção infantil.
É um grande desafio? Sem dúvida. No entanto, a tendência de integrar múltiplos setores com o objetivo de fortalecer a educação sugere que os governos estão começando a entender a complexidade e a natureza multidimensional do ensino.

Participação juvenil: dando voz à próxima geração

Um dos aspectos mais marcantes da pesquisa é que 75% dos países incentivaram a participação dos jovens nos processos de reforma educacional. Essa participação ocorre de diferentes formas, desde a criação de conselhos estudantis consultivos até a organização de fóruns de debate sobre metodologias pedagógicas. Na Europa e na América Latina, há experiências positivas onde organizações juvenis trabalham junto às autoridades para propor mudanças no currículo ou no sistema disciplinar das escolas.

Em alguns casos, essa participação foi impulsionada por ONGs ou movimentos estudantis que exigem melhor qualidade de ensino e maior equidade. Um exemplo emblemático é o do Chile, onde, há alguns anos, estudantes saíram às ruas para reivindicar educação gratuita e de qualidade, conseguindo colocar suas demandas na agenda pública. Da mesma forma, em algumas regiões da África, foram criados “parlamentos juvenis” com poder de sugerir políticas educacionais e influenciar decisões sobre a formação escolar.

Um vislumbre de esperança

O relatório analisado mostra avanços na transformação educacional em nível global, com esforços em inclusão, formação de professores e digitalização. No entanto, desafios significativos ainda persistem: barreiras de acesso, qualidade da aprendizagem, desigualdade digital, escassez de professores…

Ainda há um longo caminho a percorrer, mas os passos dados até agora representam uma base que, embora insuficiente, abre espaço para melhorias futuras.

Você também pode estar interessado em…