Medir para Melhorar: A Avaliação como Motor de Mudança na Educação

Avaliar é um pilar central para o desenvolvimento dos sistemas educacionais, e especialmente relevante em contextos como o da América Latina e Caribe, onde as desigualdades sociais e econômicas continuam sendo uma barreira para o acesso a uma educação de qualidade. Neste artigo, Mercedes Mateo, chefe da Divisão de Educação do BID, fala sobre a importância de medir as aprendizagens para ajustar políticas, melhorar o ensino e garantir resultados e equidade no acesso a uma educação relevante e de qualidade.

Medir para Melhorar: A Avaliação como Motor de Mudança na Educação

“Não podemos melhorar o que não podemos medir. O que não se melhora, sempre se degrada.”
— Lord Kelvin

É difícil chegar ao destino quando não se sabe exatamente para onde se quer ir, nem se está avançando na direção certa. Se um agricultor quer melhorar sua colheita, ele examina a qualidade do solo, mede o crescimento das plantas e analisa quais nutrientes estão faltando. Se um atleta quer correr mais rápido, precisa conhecer seu desempenho atual, identificar seus pontos fracos e ajustar o treinamento. Na educação, é a mesma coisa: não podemos melhorar a aprendizagem sem medi-la. A avaliação educacional é o instrumento que nos permite ver o progresso e analisar o que funciona, o que não funciona e como avançar rumo a um ensino mais eficaz e equitativo.

Medir o impacto das políticas e programas educacionais implementados é absolutamente fundamental. Sem avaliação, não sabemos se estamos alcançando os objetivos propostos, nem se o processo de aprendizagem de cada estudante está avançando na direção correta. Avaliar é essencial tanto sob a perspectiva do estudante quanto do professor, pois só medindo o progresso podemos adaptar o ensino ao nível adequado e acompanhar o ritmo de cada aluno.

A avaliação não é apenas um exercício administrativo, mas uma ferramenta essencial para melhorar a educação, desde a sala de aula até o desenho de políticas nacionais. A avaliação também é fundamental para que o investimento seja mais eficiente. Sabemos que os sistemas educacionais precisam de mais recursos. A América Latina, por exemplo, investe por estudante aproximadamente um terço do que investem, em média, os países da OCDE.

No entanto, os resultados de aprendizagem dos estudantes na região estão abaixo do esperado, mesmo considerando esse nível de investimento. Isso evidencia uma margem significativa para melhorar a eficiência do gasto educacional. É precisamente nesse contexto que a avaliação e a medição de impacto desempenham um papel fundamental. A tomada de decisões baseada em evidências é indispensável para desenhar políticas e programas que gerem melhorias reais na aprendizagem. Não se trata apenas de aumentar o investimento em educação, mas também de otimizar os recursos existentes para maximizar seu impacto, especialmente em uma região que enfrenta fortes restrições fiscais.

O que avaliamos e como fazemos isso?

Educación.

Uma vez estabelecida a importância de medir, podemos falar sobre o que avaliamos e como fazemos isso.

Por exemplo, sabemos que as avaliações formativas são fundamentais para que o aluno saiba onde está e quais áreas da aprendizagem precisa fortalecer. Essas avaliações não beneficiam apenas os estudantes, mas também fornecem aos professores informações-chave para personalizar o ensino e oferecer apoio específico a cada aluno. Cada estudante enfrenta desafios distintos. Por isso, a avaliação formativa é uma ferramenta essencial que deve ser aplicada de forma constante nos momentos-chave do processo de aprendizagem. Além disso, com o avanço da tecnologia, a avaliação formativa tornou-se uma funcionalidade central das plataformas adaptativas de aprendizagem, que ajustam os conteúdos de acordo com as necessidades específicas de cada aluno.

No entanto, embora as avaliações formativas sejam importantes, elas não são suficientes. Também precisamos de avaliações somativas para medir o desempenho em larga escala, identificar lacunas de equidade e começar a entender quais aspectos do sistema educacional precisam de ajustes. Nesse contexto, avaliações comparativas regionais e internacionais, como o PISA (da OCDE), o LLECE (da UNESCO) e outras, são instrumentos-chave que permitem saber como os estudantes de um país se saem em relação aos seus pares e refletir sobre o desempenho dos sistemas educacionais como um todo.

A avaliação não é apenas um exercício administrativo, mas uma ferramenta essencial para melhorar a educação, desde a sala de aula até o desenho de políticas nacionais.

Desafios da avaliação e da medição educacional

Onde está a América Latina em termos de avaliação? Quinze países da região participaram da avaliação regional ERCE 2019, que mede a aprendizagem de estudantes do ensino fundamental, e quatorze países participaram do PISA 2022, que avalia o desempenho de estudantes de 15 anos em Leitura, Matemática e Ciências. No entanto, não basta participar de avaliações internacionais. É fundamental que os países desenvolvam suas próprias avaliações nacionais.

Entre 2021 e 2023, quatorze países da América Latina aplicaram avaliações nacionais em algum nível educacional, o que lhes permite monitorar com mais detalhes a situação educacional dentro de seus territórios. Destes quatorze países, apenas oito aplicam algum tipo de avaliação censitária. Para quem quiser se aprofundar no tema, o relatório O Estado da Educação na América Latina, publicado pelo BID no ano passado, oferece uma análise abrangente sobre o estado atual das provas nacionais, regionais e internacionais na região.

Implementar sistemas sólidos de avaliação não está isento de desafios. Em primeiro lugar, são processos custosos e que exigem alta capacidade técnica e institucional. Tradicionalmente, temos nos concentrado principalmente na medição de habilidades cognitivas fundamentais, como Leitura e Matemática, deixando de lado outras dimensões igualmente críticas, como as habilidades socioemocionais, cuja medição em escala continua sendo um desafio para os sistemas educacionais não apenas na região, mas globalmente. Embora a tecnologia certamente possa ajudar a reduzir custos e facilitar a implementação, é necessário garantir as condições para manter a qualidade das medições.

O que sabemos que funciona

Existem vários princípios básicos respaldados de forma consistente pelas evidências. Por exemplo, em contextos onde os professores apresentam lacunas pedagógicas e de conteúdo, demonstrou-se que aulas roteirizadas podem ter um impacto muito positivo na aprendizagem. Em intervenções que realizamos em diferentes países e contextos altamente vulneráveis, verificamos que modelos de ensino roteirizado podem reduzir as lacunas de aprendizagem entre estudantes que estão em salas de aula com professores de diferentes níveis de formação e experiência.

Também sabemos que a aprendizagem experiencial e o uso de metodologias ativas — como a aprendizagem baseada em projetos e a resolução de problemas — são as estratégias pedagógicas que mais influenciam os resultados dos estudantes. Isso se deve ao fato de que o ser humano aprende melhor por meio da experiência.

Em uma série de países, o BID tem colaborado com os ministérios da educação em iniciativas que promovem a aprendizagem ativa em ciências e matemática por meio de projetos escolares vinculados a problemas reais das comunidades, como o manejo da água ou a proteção do meio ambiente.

Avaliações experimentais mostram que essas experiências não apenas fortalecem as habilidades acadêmicas, mas também desenvolvem o pensamento crítico, a criatividade e o engajamento cívico dos estudantes. Vale destacar que, para os estudantes com maiores dificuldades de aprendizagem, essas estratégias devem ser complementadas com instrução explícita, oportuna e adaptada às suas necessidades. Nesses casos, o uso de andaimes pedagógicos adequados é essencial para apoiar seu progresso e garantir que todos os estudantes avancem em seu processo educacional.

Outro princípio fundamental é ensinar a cada estudante no nível adequado. Como cada pessoa aprende em seu próprio ritmo, é essencial adaptar o ensino para evitar que alguém fique para trás. No entanto, muitos professores não dominam completamente as estratégias pedagógicas necessárias para aplicar uma instrução diferenciada de forma eficaz.

Para apoiá-los, existem plataformas digitais que permitem identificar o nível de aprendizagem de cada aluno e oferecer conteúdos personalizados. O BID está colaborando com vários Ministérios da Educação na região para implementar o uso dessas plataformas, com o objetivo de facilitar o ensino diferenciado e melhorar os resultados de aprendizagem, especialmente entre os estudantes que enfrentam maiores desafios.

Outra evidência muito clara é que os programas devem ser culturalmente adaptados. Não se pode replicar exatamente o mesmo programa em contextos diferentes. Um bom exemplo disso é um programa de educação intercultural bilíngue que implementamos no Panamá, que recebeu reconhecimento internacional e possui evidência experimental rigorosa de seu impacto. Ao adaptar a aprendizagem à realidade da comunidade — neste caso, combinando a matemática tradicional com a etnomatemática — fortalece-se a capacidade dos estudantes de absorver os conteúdos.

Apesar do que poderíamos imaginar, hoje já temos bastante evidência sobre o que funciona para melhorar a aprendizagem. A aprendizagem experiencial, as metodologias ativas, o ensino no nível adequado e a instrução diferenciada, as aulas roteirizadas quando os professores têm formação limitada, e os programas culturalmente adaptados são alguns exemplos de intervenções altamente eficazes. Mas grande parte dessa evidência vem de intervenções em pequena escala, realizadas como projetos-piloto.

Em qualquer intervenção, não importa apenas a ciência por trás do desenho, mas também a ciência da implementação. O que pode funcionar em ambientes controlados, com pequena escala, pode deixar de ser eficaz quando a implementação não é fiel ao desenho original.

Por isso, muitas vezes, o principal desafio é a capacidade de implementar em larga escala. Um programa piloto pode ter alto impacto em ambientes controlados, mas ao ser expandido nacionalmente, a qualidade de sua implementação se dilui e o impacto é drasticamente reduzido ou completamente anulado. Por isso, é fundamental não apenas avaliar antes de escalar uma política, mas também monitorar continuamente sua implementação para garantir que os resultados se mantenham.

Retomando o ponto de partida: melhorar a educação implica gerar evidências para desenhar políticas e implementar programas que promovam melhorias reais na aprendizagem. Por isso, a avaliação não pode ser vista apenas como um processo de diagnóstico e prestação de contas, mas como uma oportunidade de mudança e melhoria contínua para o sistema e para os estudantes.

Deve transcender a lógica de “avaliar para classificar” e se tornar uma ferramenta de aprendizagem constante que informe políticas públicas mais eficazes. Só assim a região poderá transformar a avaliação em um catalisador de mudanças reais e sustentáveis nos sistemas, para que o ensino e a aprendizagem estejam à altura das necessidades dos estudantes do século XXI.

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