“Se você acha que a educação é cara, tente a ignorância”. Esta frase bem conhecida, atribuída ao ex-chanceler da Universidade de Harvard Derek Bok, é uma forma muito gráfica de expressar o que o senso comum e os estudos econômicos nos dizem há anos: uma educação de qualidade é o melhor investimento que um país pode fazer para seu futuro e do seu povo.
Hoje, isto é mais verdadeiro do que nunca, pois o mundo enfrenta grandes desafios que ameaçam seu futuro e que só podem ser enfrentados através da educação: mudança climática, aumento das desigualdades econômicas e sociais, aumento da violência social e política, etc.
O ano de 2023 marca a metade do caminho rumo à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Já se passaram oito anos desde que a estratégia foi apresentada e temos mais sete anos para atingir as metas e objetivos estabelecidos. Dezessete metas e uma delas, a educação, como o mais poderoso catalisador para acelerar a realização de todas as outras e, portanto, o desenvolvimento de todas as nações.
Neste contexto, por mais um ano, e este será o quinto, as Nações Unidas celebraram o Dia Internacional da Educação, sob o tema “Investir nas pessoas, priorizar a educação”. A celebração deste ano tem como objetivo aproveitar o impulso global gerado pela última Cúpula de Transformação da Educação onde a comunidade internacional renovou seu compromisso de garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos, e nos exorta a tomar medidas urgentes.
ProFuturo, que teve o privilégio de participar e compartilhar sua experiência neste fórum internacional tem provas do poder transformador que a educação digital oferece em ambientes onde o acesso a uma experiência de aprendizagem de qualidade, memorável e personalizada para cada criança é mais difícil. Temos sido capazes de observar como, em diferentes localizações geográficas, a existência de uma sala de aula que integra recursos e ferramentas digitais levou a mudanças significativas, tais como uma diminuição do abandono e do absentismo escolar, um aumento da motivação para ir à escola e prestar atenção nas aulas, e uma melhoria das competências digitais das crianças, de seus professores e até mesmo de suas famílias.
Mas se queremos que todas as crianças e jovens do planeta tenham direito a uma educação de qualidade, ainda há um longo caminho a percorrer. Um caminho que começa com um compromisso: o firme propósito de todos nós com a transformação substancial de nossos sistemas educacionais. Esta transformação envolve:
Integrar a tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. A aplicação da tecnologia à educação em ambientes sociais carenciados pode ajudar a resolver muitos dos principais desafios de acesso, equidade, inclusão e qualidade que os sistemas educacionais enfrentam em muitos países. Entretanto, nunca devemos esquecer que a tecnologia é um meio e não um fim em si mesma e que, para que ela sirva ao propósito de superar a desigualdade educacional, a “pedagogia digital” e a formação de professores relacionadas a ela devem estar no centro de nossa visão.
Reimaginar a sala de aula. Precisamos mudar a maneira como os estudantes realmente aprendem. Precisamos de experiências educacionais que coloquem o aluno no centro. Não mais educação concebida apenas como uma aula magistral na qual o professor fala e o estudante ouve. Precisamos de pedagogias ativas, que se concentrem no estudante e, portanto, façam dele uma parte ativa de sua aprendizagem.
Incorporar novas competências. Porque, junto com a forma como aprendemos, devemos mudar as coisas que aprendemos. Porque ao mesmo tempo em que aprendem a ler, escrever e fazer cálculos básicos, os estudantes devem desenvolver habilidades e competências digitais como pensamento crítico, comunicação, criatividade, resolver problemas e trabalho em equipe, o que facilitará muito o seu funcionamento nas sociedades de hoje e de amanhã.
Reinventar a profissão docente. Como já dissemos, hoje mais do que nunca, precisamos de professores formados que vão muito além da mera transmissão de conhecimento à moda antiga. É evidente que as novas tecnologias na educação oferecem um enorme potencial para acelerar a aprendizagem e torná-la mais acessível. Entretanto, uma coisa é clara: se os professores não estiverem preparados para usar essas tecnologias, não poderemos aproveitar o enorme potencial da educação digital. Precisamos de docentes digitais com habilidades específicas para colocar a tecnologia a serviço do modelo pedagógico e introduzi-la na sala de aula para melhorar a qualidade do ensino. A incorporação da tecnologia na educação não é um processo automático ou simples: traz consigo o desafio de formar um novo profissional, um novo professor que saiba como incorporar estas tecnologias em sua prática pedagógica a fim de promover a aprendizagem em seus alunos.
Investir mais e melhor. Tal transformação requer, é claro, investimentos substanciais. E isto, no contexto atual de restrições orçamentárias em muitos países do mundo, deve ser acompanhado de grandes doses de engenhosidade e criatividade para nos ajudar a maximizar o impacto de cada euro investido. Uma maneira de fazer isso é promovendo e incentivando parcerias público-privadas, que já desempenharam um papel fundamental em muitos aspectos da transformação digital da educação, tais como encontrar soluções para conectividade, produção de conteúdos, desenvolvimento de plataformas digitais e formação de professores. A inteligência de dados, naturalmente, também pode fazer muito para otimizar os gastos, ajudando-nos não apenas a analisar e melhorar os resultados de aprendizagem, mas também a tomar decisões inteligentes e informadas. Além disso, globalmente, os dados nos ajudarão a não “reinventar a roda” e a ter uma abordagem inovadora orientada por dados: tornar-se uma verdadeira organização de aprendizagem que testa novos procedimentos e coleta dados sobre eles a fim de adaptar sua implementação.
Atingir nosso objetivo de “não deixar ninguém para trás em excelente educação” requer múltiplos caminhos e fórmulas. É uma necessidade urgente para governos e administrações públicas, para sistemas educacionais como um todo, para organizações do terceiro setor, para fundações corporativas como a nossa e, sobretudo, para a sociedade civil, para famílias e comunidades que também assumam seu papel transformador. É impossível progredir em algo que é a espinha dorsal de nossas sociedades e culturas se não estivermos todos unidos na mesma causa. Nosso futuro como humanidade depende dos talentos de cada um de seus membros, como indivíduos e comunidades, e nisto devemos investir. Colocar a educação no topo das agendas políticas, econômicas e culturais significa investir nas pessoas, na igualdade de direitos, na justiça, na sustentabilidade, em um compromisso com a paz e, em última instância, em um futuro mais esclarecedor do que nosso presente.