Global Kids Online: gerando evidências sobre o uso da Internet pelos mais jovens
Em uma época em que os dispositivos eletrônicos e as plataformas digitais passaram a monopolizar todos os aspectos de nossas vidas, precisamos responder a uma pergunta fundamental: como estão os mais jovens a adaptar-se e a navegar neste ambiente em constante evolução? Esta é a questão que o Global Kids Online, um projeto de pesquisa internacional que se concentra em explorar e entender como meninas, meninos e jovens usam a Internet e as tecnologias digitais em diferentes partes do mundo.
Com a colaboração de mais de 30 países e a participação conjunta do Escritório de Pesquisa do UNICEF-Innocenti, do London School of Economics and Political Science (LSE) e da rede EU Kids Online, esse projeto realiza pesquisas periódicas regulares em vários países para coletar dados sobre o comportamento on-line das crianças, interações com a mídia digital, educação digital e questões relacionadas. Seu principal objetivo é gerar evidências rigorosas sobre o uso da Internet pelas crianças, fornecendo informações valiosas para os formuladores de políticas, pesquisadores e outras partes interessadas na proteção e no bem-estar das crianças no ambiente digital. Atualmente, fazem parte do projeto países como Albânia, Bulgária, Canadá, Costa Rica, Gana, Índia, Montenegro, Nova Zelândia, Filipinas, Sérvia e África do Sul; e na América Latina, Argentina, Brasil, Chile y Uruguai publicaram relatórios.
TIC Kids Online: um olhar sobre o caso do Brasil
Na América Latina, o Brasil foi pioneiro na implementação do estudo. Desde 2012, é realizado anualmente sob a supervisão do Centro Regional de Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), entidade dedicada a pesquisar o acesso, uso e apropriação das TIC no país. A pesquisa TIC Kids Online reúne informações sobre crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos, bem como seus pais ou responsáveis, com o objetivo de identificar riscos e oportunidades relacionados ao uso e participação online de crianças e jovens no país. Os resultados do estudo revelam uma ampla utilização da Internet nestas idades precoces, tornando-a num foco de atenção de pais e encarregados de educação, docentes e gestores políticos. Num contexto em que é cada vez mais necessário ter dados e evidências atualizadas sobre a utilização da Internet por este grupo, estas conclusões informam os debates e orientam o desenvolvimento de políticas públicas para as crianças, para salvaguardar, proteger e promover a democratização do uso seguro da diferentes ferramentas digitais disponíveis.
As características do último estudo (2022) estão detalhadas na imagem a seguir.
Em relação à conectividade, os resultados revelam que 92% das crianças e adolescentes têm acesso à Internet e 96% deles conseguem conectar-se regularmente à Internet. No entanto, persistem disparidades em termos de localização geográfica: em contextos rurais, apenas 85% dos agregados familiares têm Internet. Além disso, é importante observar que quase todas as pessoas com uma posição socioeconômica mais forte têm conectividade permanente (99%), em contraste com os grupos mais desfavorecidos (88%).
Porém, quando nos aprofundamos nas condições de uso da internet, fica claro que o acesso em si não garante igualdade. As conclusões indicam, por exemplo, que a qualidade da ligação pode tornar-se uma nova barreira de desigualdade na utilização de ferramentas digitais. De fato, nos estratos sociais mais baixos, 39% dos entrevistados consideram que a velocidade do serviço é insuficiente e está piorando, enquanto 25% estão limitados em suas atividades devido a restrições de saldo, em comparação com 18% e 15%, respectivamente, nos estratos socioeconômicos mais altos.
A supremacia do celular e a necessidade de fortalecer as habilidades digitais
Nesse cenário, o telefone celular é o principal dispositivo de uso, usado por 96% dos entrevistados para acessar a Internet, em comparação com 43% que usam computadores. Da mesma forma, as diferenças também são delineadas de acordo com o nível socioeconômico dos usuários, com as classes mais abastadas tendo acesso a uma maior diversidade de dispositivos (telefones celulares, televisão, computadores, consoles de videogame), enquanto 82% das classes menos privilegiadas acessam a Internet exclusivamente por meio de seus telefones celulares.
O estudo também capta a percepção de crianças e adolescentes em relação às suas capacidades de uso de ferramentas tecnológicas, apreciação que destaca a necessidade de fortalecer o desenvolvimento de competências digitais como competências essenciais para o século XXI. Especificamente, os participantes relatam dominar as ações que realizam diariamente, como proteger seus dispositivos com senhas ou outros mecanismos de segurança (85%), em oposição a ações menos comuns, como verificar o custo monetário de um aplicativo (46%) ou lidar com linguagens de programação (18%).Com base nessas evidências, o desenvolvimento de habilidades para o uso crítico e reflexivo da Internet continua sendo um desafio. As tarefas essenciais para verificar as informações ilustram esse desafio: enquanto 70% afirmam ser capazes de localizar sites visitados anteriormente, apenas 52% conseguem discernir se o conteúdo que consomem é patrocinado e 43% consideram o primeiro resultado da pesquisa como a melhor fonte de informações.
Estes dados sublinham a relevância de aprofundar o desenvolvimento de competências digitais na escola para além da mera alfabetização. O recente Relatório GEM (2023) sobre tecnologia e educação salienta que estas competências não só mudam rapidamente, mas também são amplamente adquiridas em contextos informais. Nesse sentido, é essencial reconhecer o conhecimento que as crianças e os adolescentes possuem nessa área, com o objetivo de orientar ações pedagógicas que promovam o aprendizado de habilidades mais complexas no sistema educacional.
Atividades online: socialização, informação e entretenimento
Crianças e adolescentes fazem uso frequente da Internet. Embora a sua participação nas redes sociais aumente constantemente, esta não é a única atividade que realizam online. O estudo abrange também ações como a busca de informações e a investigação de questões relacionadas à saúde e ao bem-estar.
Privacidade na Internet: um aspecto crítico das tecnologias digitais
Uma questão que ganha cada vez mais relevância em relação ao uso da Internet está relacionada com a identificação de riscos e a salvaguarda da identidade virtual. Relatórios emitidos pelas Nações Unidas (2022) e pela Unicef (2021) alertam para a crescente preocupação com a preservação do direito à privacidade das crianças, dada a falta de conhecimento sobre os dados recolhidos e tratados pelas plataformas digitais, o que poderá implicar ameaças à sua segurança.
O relatório TIC Kids Online 2022 incorpora novos indicadores que abordam estas questões. Embora 40% dos participantes admitam utilizar a Internet para fazer novos amigos, 73% afirmam que são cautelosos ao aceitar convites e 63% afirmam que só partilham publicações com amigos próximos, enquanto 79% declaram que cuidam da informação eles compartilham em mídia digital. Por outro lado, ações relacionadas aos aspectos técnicos dos aplicativos são apontadas como menos comuns entre crianças e adolescentes. Por exemplo, 58% dizem que fornecem o mínimo possível de informações ao se registrarem em novos sites e apenas 55% admitem ler os termos de privacidade dos aplicativos que usam.
Quanto às estratégias adotadas, destacam-se o bloqueio de mensagens de pessoas com quem não desejam interagir (63%), a utilização de senhas complexas que incluam vários tipos de caracteres (58%) e a alteração das configurações de privacidade nos perfis (52%). como as ações mais comuns entre crianças e adolescentes. É importante destacar que os resultados mostram uma maior prevalência deste tipo de estratégia no grupo feminino, bem como a sua crescente adoção nos segmentos mais velhos do estudo (15 a 17 anos).
Uma ferramenta para compreender a participação online durante a infância e a adolescência
Estudos como o TIC Kids Online proporcionam uma compreensão ampla dos comportamentos que crianças e adolescentes desenvolvem na Internet, bem como das habilidades que apresentam ao navegar na Internet. Neste contexto, a informação recolhida por este estudo torna-se um recurso essencial para a formulação de estratégias do sistema educativo, contribuindo para o crescimento e fortalecimento de cidadãos competentes no domínio digital. A produção, seleção e gestão de conteúdos online são competências fundamentais que as crianças e os jovens devem desenvolver para funcionarem e coexistirem em ambientes educativos e sociais altamente digitalizados.
Para saber mais sobre os resultados do estudo no Brasil e acessar os microdados, convidamos você a visitar o site do Centro Regional de Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Além disso, para obter informações sobre o projeto Global Kids Online e explorar os detalhes dos vários países participantes, recomendamos que visite o seu site. Esses recursos proporcionarão uma visão mais completa do valioso trabalho que é realizado para compreender e promover uma participação segura e enriquecedora de crianças e adolescentes no mundo digital.