Dia da Internet Segura: cinco perguntas-chave

Equipar os estudantes com as ferramentas e treinamento para se tornarem bons cidadãos digitais deve estar no centro do debate educacional. Mas será? Estamos realmente conscientes de sua importância? O Dia da Internet Segura é celebrado todos os anos desde 1997 para promover, informar e educar sobre o uso responsável, respeitoso, crítico e criativo da Internet. Neste post, queremos nos juntar à celebração, levantando algumas questões-chave.

Dia da Internet Segura: cinco perguntas-chave

Como as crianças usam a Internet?

A Internet nasceu como um sistema para os cientistas de todo o mundo compartilharem informações. Em 23 de agosto de 1991, a World Wide Web foi lançada para o mundo. Em 1991, seus usuários representavam menos de 1% da população mundial. Hoje, 32 anos depois, são 5.160 milhões de pessoas, ou seja, 64,4% da população mundial. Esses são dados do relatório Digital 2023 realizado pela We Are Social e Hootsuite.

Segundo a UNICEF, crianças e adolescentes representam aproximadamente um em cada três usuários. As crescentes evidências empíricas mostram que as crianças estão acessando a Internet cada vez mais jovens. Segundo essa mesma organização, em alguns países, crianças com menos de 15 anos têm tanta probabilidade de usar a Internet quanto adultos com mais de 25 anos. Os smartphones estão alimentando uma “cultura de quarto de dormir” e, para muitas crianças, o acesso on-line está se tornando mais pessoal, mais privado e menos supervisionado.

Agora que sabemos quantas crianças usam a Internet, vamos ver como fazem. O cenário geral seria em casa, de preferência através de dispositivos móveis, especialmente smartphones (eles são mais flexíveis e privados) e para comunicar, aprender coisas novas e jogar jogos on-line. Estes são dados do projeto Global Kids Online, uma iniciativa de UNICEF a London School of Economics e a União Europeia, que reúne evidências sobre direitos, oportunidades e riscos digitais de crianças em 33 países ao redor do mundo. Ampliando este cenário, podemos ver como, por exemplo, nas Filipinas, as crianças adoram o Facebook e o YouTube, e suas principais atividades on-line são aprender algo novo, redes sociais, assistir a vídeos, usar a Internet para fazer os deveres de casa e jogar on-line. Na África do Sul, até dois em cada cinco adolescentes buscam informações sobre saúde na Internet pelo menos uma vez por semana. No Brasil, três em cada 10 crianças buscam informações sobre bem-estar e saúde mental. Já as atividades multimídia, educacionais e de comunicação foram as atividades on-line mais comuns entre as crianças e jovens brasileiros.

Crianças e adolescentes respondem por aproximadamente um em cada três usuários da Internet.

Nossos filhos são realmente nativos digitais?

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Absolutamente não. Ninguém nasce sabendo, e nisto, o uso das ferramentas digitais não é exceção. Saber usar a tecnologia é o mesmo que saber como usar a tecnologia? Alguns estudos demonstraram que, embora as crianças pequenas (nativos digitais) manipulem com facilidade as novas tecnologias, não possuem as habilidades técnicas, críticas e sociais necessárias para lidar com os perigos que elas representam.

As novas tecnologias e o ambiente digital oferecem grandes oportunidades às crianças e aos jovens. Eles podem, por exemplo, acessar uma grande quantidade de informações que nenhuma geração anterior teve acesso; podem aprender de muitas maneiras diferentes, mediados por essas tecnologias; e também podem criar e distribuir seu próprio conteúdo para o mundo. No entanto, estas oportunidades, que também são fundamentais para o desenvolvimento de suas plenas capacidades como seres humanos, devem sempre andar de mãos dadas com a responsabilidade. Assim, da mesma forma que no mundo analógico protegemos nossos filhos de diversas situações potencialmente perigosas e lhes ensinamos como se proteger delas, no mundo digital não podemos nos esquecer dessa proteção.

A fim de se protegerem, as crianças precisam adquirir competências digitais que, como nos disse a especialista Marcela Momberg, são aquelas que um cidadão deve ter nesta era hiperconectada para poder existir no espaço digital. Isto implica em competências para discriminar a informação, para comunicar, para cuidar de si mesmo, para criar em um espaço completamente diferente, para democratizar a informação. É uma soma de competências que nos permite saber quais deveres e direitos temos em um espaço que está em contínua transformação. Estas competências devem ser geradas em sala de aula, com o acompanhamento dos pais e o apoio das instituições.

O que significa fazer um uso crítico, seguro e responsável das novas tecnologias?

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O consumo de informações sempre foi acompanhado pela necessidade de fazer uso do pensamento crítico. Quem nos diz o quê? Quais são suas credenciais? Por que eu deveria confiar nestas informações? Atualmente, com o enorme volume de informações que tratamos, graças ao surgimento de novas tecnologias, a necessidade de fazer um uso crítico das mesmas aumentou mil vezes. Hoje, é mais necessário do que nunca aprender a avaliar a credibilidade das informações que consumimos. Como produtores de conteúdo, devemos também aprender a produzir conteúdo relevante e apropriado, utilizando as fontes corretas.

Por outro lado, como já dissemos, no mundo digital, como no mundo analógico, é muito importante saber como nos proteger contra possíveis riscos. Então, proteger nossos dados e informações pessoais e evitar fraudes, páginas não seguras e receber informações maliciosas são algumas das ações que devemos internalizar desde tenra idade a fim de fazer uso seguro das novas tecnologias.

Finalmente, a responsabilidade e o respeito por si mesmo e pelos outros, que devemos praticar em nossa vida diária no mundo analógico, são valores que devem ser transferidos para o mundo digital quando interagimos na rede de redes.

Competências digitais devem ser geradas em sala de aula, com o acompanhamento dos pais e o apoio das instituições.

E os professores? Estão preparados para ensinar cidadania digital?

A incorporação da tecnologia na educação implica no desafio de formar um novo profissional: um novo professor que não só seja capaz de integrar novas tecnologias em sua prática pedagógica, mas que também saiba orientar seus alunos no uso crítico, seguro e responsável das novas tecnologias. A sociedade global e tecnológica do século XXI exige professores com competências específicas para colocar a tecnologia a serviço do modelo pedagógico e introduzi-la na sala de aula. Como devem ser os novos professores num ambiente educacional cada vez mais digital? O que eles precisam saber para poder ensinar seus estudantes? Falamos sobre isso neste post. Quais são essas competências e como desenvolvê-las? Aqui mostramos alguns programas e, nesta entrevista, uma professora experiente compartilha sua receita de apoio aos professores, especialmente os de ambientes sociais carenciados.

O problema não são as novas tecnologias em si, mas a forma como o cidadão do século XXI está sendo educado, sem incluir o ensino do uso dessas novas tecnologias deforma apropriada.

O que podemos fazer para promover o uso seguro, crítico e responsável da Internet?

Já vimos que hoje um em cada três usuários da Internet são crianças (1,72 bilhão de crianças e jovens) e esta tendência só vai aumentar no futuro. Também vimos como o problema não são as novas tecnologias em si, mas a forma como o cidadão do século XXI está sendo educado, sem incluir o ensino do uso dessas novas tecnologias deforma apropriada. E que ações prioritárias podem ser promovidas por órgãos públicos e privados, nacionais e supranacionais para proteger as crianças dos perigos do mundo digital e ao mesmo tempo ajudá-las a se beneficiar das múltiplas vantagens da conectividade?

Em seu relatório Situação Mundial da Infância 2017: crianças em um mundo digital, o Unicef esboça uma série de pontos para orientar a elaboração de políticas e ações práticas na esfera digital em relação às crianças. Vemos isso abaixo:

  1. Proporcionar a todas as crianças acesso a recursos on-line de alta qualidade e acessíveis. A qualidade dos conteúdos é um dos fatores mais decisivos quando se trata do uso seguro, crítico e responsável de novas tecnologias. O acesso aos conteúdos de qualidade facilita seu acesso a informações e oportunidades de emprego e participação social. É por isso que todas as crianças devem ter acesso garantido a recursos on-line de alta qualidade. Como? Reduzindo o custo da conectividade; investindo em pontos de acesso público e promovendo a criação de conteúdos relevantes para as crianças e em seus próprios idiomas.
  1. Protegendo as crianças de danos on-line, apoiando a implementação de leis e atividades nacionais e internacionais de proteção à criança e promovendo atividades de informação e conscientização em todos os níveis.
  1. Protegendo a privacidade e identidade das crianças on-line, implementando salvaguardas para proteger as informações pessoais das crianças de acordo com os padrões éticos e internacionais; proibindo a exploração dos dados pessoais das crianças para fins comerciais e estabelecendo configurações máximas de privacidade por padrão em ferramentas e plataformas digitais utilizadas por crianças.
  1. Proporcionando alfabetização digital para manter as crianças informadas, engajadas e seguras on-line, ensinando alfabetização digital nas escolas; estabelecendo oportunidades para aprender habilidades de TIC na educação não formal ou apoiando a capacitação de professores.
  1. Aproveitando o poder do setor privado para promover normas e práticas éticas que protejam e beneficiem as crianças on-line. O setor privado desempenhou um papel fundamental na eclosão da revolução digital. Como provedores de acesso à Internet, como produtores e provedores de conteúdo e outros bens digitais, e como fornecedores de bens e serviços on-line, as empresas digitais estão cada vez mais integradas na vida das crianças. Como guardiões que controlam o fluxo de informações através das redes, eles também têm acesso a grandes quantidades de informações e dados das crianças. Essas funções proporcionam às empresas poder e influência consideráveis e, portanto, aumentam suas responsabilidades.
  1. Colocando as crianças no centro da política digital. Apesar das estimativas de que as crianças representam um terço dos usuários da Internet, as atuais políticas nacionais e internacionais de Internet não levam suficientemente em conta as necessidades e direitos particulares das crianças. Políticas relacionadas à cibersegurança, inteligência artificial e aprendizado de máquina, neutralidade da rede e abertura da Internet enfocam, principalmente, o usuário adulto. É por isso que as opiniões das crianças e dos jovens devem ser incluídas no desenvolvimento de políticas digitais que afetam suas vidas e que as questões específicas das crianças devem ser integradas nas políticas e estratégias nacionais.

A necessidade de educar cidadãos digitais críticos e responsáveis está se tornando cada vez mais urgente. Escolas e professores estão em uma posição única para promover o uso seguro, crítico e responsável de novas tecnologias. Mas para desenvolverem seu trabalho docente com sucesso, eles precisam de uma estrutura clara que deve ser fornecida pelas políticas institucionais e pelas administrações públicas. Estamos diante de uma oportunidade histórica que governos, professores, instituições privadas e organizações da sociedade civil devem aproveitar para desenvolver conteúdos, recursos educacionais e metodologias de trabalho em sala de aula que permitirão às próximas gerações viver no mundo digital da melhor maneira possível.

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