Desde a década de 1990, Redes de Tutoría tem sido um movimento educacional revolucionário que promove o aprendizagem e o crescimento pessoal por meio do relacionamento de aula de reforço. Esta poderosa conexão formativa é baseada no diálogo, reflexão e colaboração, e seu impacto transcendeu as fronteiras do México, alcançando países como Estados Unidos, Peru, Chile, Argentina, Indonésia, Tailândia e Cingapura. Em reconhecimento à sua abordagem valiosa, a Fundação HundrED se destacou entre as práticas mais promissoras de inovação no ensino mundial de 2018 a 2021.
Para conhecer a experiência mais recente desta iniciativa, conversamos com Araceli Castillo, coordenadora acadêmica de Redes de Tutoría, Dalila López, professora, e Adán Rivera, assessor educacional. Com eles, exploramos os componentes da relação tutor e a incorporação de tecnologias durante a evolução do programa, analisando seus benefícios e limitações para promover e transformar a aprendizagem.
A relação tutor: compromisso, diálogo, humanidade e autonomia
A relação tutor assenta num acordo de aprendizagem entre duas pessoas: uma que tutora e outra que é tutorada, com o objetivo de adquirir conhecimentos e desenvolver competências. Existe um compromisso por parte dos seus participantes em dedicar tempo e promover atividades que visem atingir estes objetivos. As funções de tutor e tutorado podem ser assumidas por docentes e estudantes, mas também entre pares professor e/ou aluno, formando uma rede cíclica de aprendizagem.
Para os promotores das Redes de Tutoria, para além das componentes metodológicas, a relação tutor é entendida como uma forma de relacionamento humano com três princípios: (i) um diálogo genuíno, “um processo de mão dupla, mais profundo do que o simples fato pedagógico de pergunta e resposta”; (ii) uma relação pessoal que atenda integralmente aos participantes, considerando “suas formas de pensar e sua situação humana quando trabalham juntos”; e (iii) a promoção da autonomia na aprendizagem. Sobre esses princípios, Dalila López destaca: “Não é uma relação de acompanhamento paralela à vida escolar, quase sempre com relações verticais unidirecionais. O que articula esta relação, para além dos meios com que se materializa, é o respeito pela condição humana do outro, que a torna aplicável a qualquer nível dentro e fora da sala de aula”. Sobre essa dimensão, Araceli Castillo destaca que “a relação tutor transforma você e, a partir de sua filosofia, vai além dos espaços formais de aprendizagem, posicionando-se perante o outro em igualdade de condições, com respeito e amor ao aprendizagem do outro”. A imagem abaixo ilustra o ciclo da relação de mentoria e seus papéis.
Tecnologias ao serviço da relação tutor
“A primeira vez que tentei usar a tecnologia para aula de reforço foi por volta do ano 2000. Estávamos tentando fazer isso pelo chat do Google, mas era difícil. Eu queria que meu parceiro definisse vértice. Na aula de reforço presencial, basta apontar o dedo e apontar o desenho, mas por mensagem era mais complexo”. Esta anedota narrada por Dalila López ilustra como o uso de tecnologias nos processos de aprendizagem evoluiu em diferentes momentos, adaptando-se às mudanças e desafios que a iniciativa enfrentou.
No período entre 2007-2012, com o apoio da Subsecretaria de Educação Básica do México, o programa enfrentou o desafio de promover a tutoria em aproximadamente 9.000 escolas com baixos resultados na medição nacional ENLACE (matemática e espanhol). Para o conseguir, foram desenhadas estratégias para a sua escalabilidade e foi feito um trabalho com os professores nas suas tutorias. Surgiu então a ideia de criar “nós de aprendizagem”, espaços de encontro e experimentação entre docentes: “Precisávamos multiplicar e gerar turmas de professores que vivenciassem a relação de aula de reforço de forma horizontal, pois nossa formação é principalmente demonstrativa e vivencial”, explica Dalila.
Este desafio levou ao desenho de uma plataforma digital, dando sempre especial atenção às componentes dr aulas de reforço e às suas interações. Replicar a interação humana com a tecnologia foi um grande desafio. Para resolver isso, eles convidaram os desenvolvedores para assistir aos tutoriais. A comunicação constante entre as equipes foi fundamental para adaptar o programa sem perder sua essência.
Seguindo esses princípios para o encontro entre tutores e estudantes, pouco antes do início da pandemia, começou a ser desenvolvida uma experiência de aula de reforço virtual. “Era uma plataforma onde você podia se cadastrar, pesquisar temas de seu interesse e se conectar com pessoas disponíveis que poderiam te orientar”, explica Adán Rivera. Com esta ferramenta, os participantes puderam vivenciar o ciclo completo de mentoria. Além disso, essa iniciativa possibilitou a conexão com populações rurais, com pouca ou nenhuma conectividade. Adán Rivera lembra que as pessoas usaram a ferramenta de diversas formas, por exemplo, para se conectar e depois realizar a tutoria fora da plataforma, por meio do WhatsApp ou outros aplicativos mais comuns em seus contextos: “Curiosamente, o grupo de professores de educação indígena de Nayarit, que são os que mais tiveram dificuldades de se conectar, foi o que mais contou com essa plataforma para orientar o processo e as reuniões de relacionamento com tutores”.
Em decorrência das condições causadas pela pandemia e do interesse genuíno em dar continuidade ao projeto de relação de tutoria, foi criada a Rede Nacional de Comunidades de Aprendizagem em Relações de aula de reforço, CART. As tecnologias permitiram não só lançar a iniciativa, mas também dialogar com os profissionais que promovem a estratégia no México e no resto do mundo.
Limitações e benefícios das tecnologias
O uso de tecnologias na construção da relação tutor tem possibilitado compreender seus entraves e reconhecer suas contribuições. Nesse sentido, os promotores identificam como limitações técnicas a frequente dificuldade de acesso a uma conexão estável e a dispositivos adequados, o que prejudica o bom desenvolvimento das interações. Além disso, as dinâmicas de encontro vivenciadas virtualmente são diferentes e exigem uma nova forma de diálogo. Como aponta Araceli Castillo, “quando você está na plataforma você só consegue ver uma parte da pessoa e muitas vezes a câmera dela está desligada, então você tem que aprender a ler de uma forma diferente, identificar aquelas questões que não são perguntado… você deve criar outras estratégias para apoiar seu pupilo.
Adicionalmente, Dalila López reconhece que as tecnologias impõem certas limitações na concepção de ferramentas, promovendo certos tipos de práticas, mediadas por fatores relacionados ao financiamento e acesso a inovações. Este foi um problema no projeto das primeiras plataformas. Lopes dá um exemplo: “Imaginávamos que permitisse expor o conteúdos e demonstrá-lo em uma lousa, que gerasse registros do processo de aprendizagem, mas naquela época não era possível. Hoje é algo que pode ser desenvolvido através de algumas plataformas de videochamada, agrupando diferentes funcionalidades ao serviço da aprendizagem”.
As tecnologias também estão associadas a barreiras no desenvolvimento de habilidades digitais e experiência com aplicativos. Adán Rivera reconhece que, durante a pandemia, os professores enfrentaram o desafio de desenvolver suas tutorias em formato virtual com diferentes graus de adoção tecnológica. “Alguns podiam incorporar aplicativos para trabalhar ao vivo, enquanto outros dependiam da ajuda de seus familiares para conseguir se conectar. Aos poucos fomos nos adaptando a todas essas realidades”. Outro desafio acrescido, acrescenta Rivera, tem a ver com a avaliação pessoal das tecnologias: “A ideia que temos de aprendizagem virtual ou presencial favorece ou limita o que podemos fazer. Muitas vezes a barreira não está na ferramenta”.
Quanto aos seus benefícios, as ferramentas digitais permitem construir relações mais horizontais com o conhecimento, por isso é necessário quando, como na relação tutor, você concede autonomia ao estudante e permite que ele desenvolva habilidades de acordo com seus interesses. Assim explica Dalila López: “A tecnologia é necessária quando você desenvolve autonomia no corpo discente, é ainda mais necessária do que quando você não tem. Em uma sala de aula convencional, sua ausência não será tão sentida, pois o professor é o administrador da informação. Quando se permite que o aluno desenvolva competências em resposta aos seus interesses, como acontece na relação tutor, o acesso à informação torna-se logo uma dificuldade, e não me refiro apenas a repositórios documentais, mas também à possibilidade de interagir com diferentes especialistas e projetos que permitem aprofundar essa capacidade de autonomia na experiência de aprendizagem”.
Praticados desde os tempos antigos, os tutoriais sempre foram um método eficaz de aprendizagem. O desenvolvimento das tecnologias digitais também fez com que elas se tornassem um dos métodos mais econômicos para melhorar os resultados educacionais em ambientes sociais carenciados.